domingo, 3 de agosto de 2008

PERDENDO A CLASSE 2



Hoje minha manhã começou maravilhosa. Eu estava no meio de um ménage a trois com a Sylvia Saint e a Austin Kincaid, eu fazia um cunete na Sylvia enquanto a Austin me cavalgava vigorosamente, e as duas, uma de frente para a outra, se beijavam e acariciavam com alguma violência... e um som estridente começou a vir de algum lugar distante, em ondas, cuja intensidade não parava de aumentar. Era o telefone.

Muito sonolento, acordei com um péssimo humor pela interrupção de um dos melhores sonhos dos últimos dez anos, e estiquei a mão para atender a porra do telefone. Quem seria o maldito filho da puta, pronto para tirar um cristão da cama às nove da manhã de um domingão? Ontem estava no show do Joe Satriani, não precisava dirigir e enchi a lata de uísque. Meu plano era acordar meio-dia, encher o estômago vazio de coca-cola e sair para almoçar algo o menos saudável possível. Em vez disso, eu fui tirado abruptamente do melhor sonho de suruba do universo praticamente de madrugada. Tateei a parede, peguei o fone e encostei na orelha. Som de ligação a cobrar. "Ah, não", pensei meio confuso, "fala sério que é esse prego de novo". Pois era! A mesma voz de travesti fingindo choro:

- MÃÃÃÃÃEEEE!!! PAAAAIIII!!!!

Aquilo não podia estar acontecendo. Esse viado não desiste? Na vez anterior eu briguei comigo mesmo pela oportunidade perdida de zoar o cara. Mas, porra, hoje eu estava com muito sono, e com um óbvio mau humor súbito devido à circunstância. Só respondi, com aquela voz típica de quem está acordado, mas queria muito ainda estar dormindo, de quem se recusa a abrir os olhos. Aquela voz de desprezo padrão de quem foi acordado por um escroto sem noção do caralho:

- Porra, brother! Eu não caio nessa não!

Pronto. Rápido, direto e objetivo. O cara iria desligar, procurar outro otário para arrancar grana e crédito de celular, e com alguma sorte, eu conseguiria voltar para o que estava fazendo. Mas, em vez disso, sem nem fingir que saiu do fone, o cara disse:

- [voz de homem, com sotaque forçado de malandro carioca]: Tu já caiu, mané! Já caiu! Agora pega na minha vara!!!

Mas que filho da puta! Aposto que se não fosse ligação a cobrar, ele não ia estender o papo. Mas continuava a me encher. Fiquei puto:

- Aposto que tem muita vara aí onde você tá, né?

Acho que a vida na prisão, apesar da proximidade praticamente íntima imposta pelas celas superlotadas, deve ser um pouco solitária. Porque, em vez de simplesmente desistir, ou me xingar, o cara só respondeu:

- É... tem. - e se calou.

Só me faltava essa. Virar confidente de mala presidiário que esconde o celular no rabo, e ainda pagando a ligação. Daqui a pouco, se deixasse, ele estaria se lamentando, como é vítima da sociedade, que foi injustiçado pelo estado, e que tudo aquilo era consequência do fato de ter sido enrabado pelo vovô com seis anos de idade, que ficou traumatizado, que por isso não sabe o que é ter amor no coração e blábláblá. Achei melhor simplesmente desligar o telefone.

Tentei pegar no sono de novo, mas a Sylvia e a Austin não estavam mais lá. Devem ter enjoado de esperar, provavelmente se vestiram e foram embora, para terminar a diversão em outro canto. Azar o meu. Maldito mala!