quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

COMMERCIO - Parte Final

Era uma rua escura em Assunción. Contra o negrume, brilhava apenas a o letreiro em néon: "Hombres Y Hombres".

- Yolanda, estou nervoso. Tem certeza que é isso que você quer?

- Se você não for viado, não basta me comer para provar, Romualdo. Isso tem um monte de gilletão que faz.

- Tá, mas não tem outro jeito? Quer mesmo que eu mate toda essa gente?

- Ai, virgenzinha! Justo você que tira maior onda de bandidão...

- É diferente, porra. Já mandei uma galera aí para baixo da terra, mas tinha motivo. Era gente que tava atrapalhando a vida do chefe, às vezes um policial que já chegou atirando e nem deu tempo de montar um acordo...um contrabandistazinho de merda que achou que podia invadir a área do Seu Agenor...coisa do tipo. Entrar num boteco e metralhar todo mundo que está dentro, nunca. Aliás, só usei metralhadora uma vez na vida, semana passada, por sinal. E não gostei muito. Além disso, o que essas pessoas fizeram de errado? Dar o cu e chupar pica pode ser meio feio, mas não é motivo para passar fogo em ninguém!

- Levanta logo a bandeira de arco-íris e sai de baby-doll na rua então, Romualdo! Você disse que faria qualquer coisa que eu pedisse, e eu já te disse o que quero.

- Porra, tu é sanguinária, hein, guria?

- Sanguinária nada. É que não consigo ver outro meio de me convencer que você não é boiola. Se você for, não vai conseguir atirar nas suas "amiguinhas"...

- Isso não é certo. Se o chefe souber, estamos os dois na rua e teremos sorte se ele parar nisso. Ele não concordaria com essa porra de jeito nenhum.

- Então a gente não vai contar pra ele, certo, Romualdo?

- Eu não sou homofóbico.

- O quê?

- Homofóbico. Um cara que detesta boiolas. Eu não sou assim. Só estou fazendo isso por você, porque eu te amo. - porque meu pau já está quase rasgando a calça de vontade de te comer, ele pensou.

- Vamos ver se isso é verdade.

Romualdo levou uma garrafa de vodka cheia pra a ocasião. Sabia que iria precisar. Os dois tiraram o lacre, abriram, beberam tudo, esconderam o rosto com meiões furados e entraram.

Na delegacia de polícia, um rapaz estava pendurado de cabeça para baixo, com os pés amarrados em uma trave parafusada no teto. Um homem mais velho perguntava, outros dois batiam com cassetetes. Não demorou muito para o rapaz abrir a boca - já sem dentes - e falar tudo que o delegado queria saber. Ele, por sua vez, parou de falar e ficou só alisando os fios grisalhos de seu bigode, enquanto o gravador registrava o depoimento. Um recruta invadiu a sala gritando, esbaforido.

- Señor! Según la información en el teléfono, hay un gran masacre en el bodega de los maricones!

- No ves tu que estoy a trabajar, muchacho? Que se fuedan los maricones! Antes ellos que nosotros!

- Pero...

- "Pero" de cu es rola! Fuera! Em la mañana nosotros vamos al bar ensacar los cuerpos! Ahora estoy a trabajar! Fuera! Fuera!

- Si señor.

Romualdo nunca poderia imaginar que Yolanda fosse virgem. O pouco sangue que escorreu da vagina da moça juntou-se às poças que se acumulavam no chão. Grandes seios. Coxas grossas. Bunda arrebitada e firme. A pele moreno-jambo da mais brasileira das misturas. Nem tiraram as máscaras. Era o paraíso para Romualdo, aquilo, misturado ao cheiro da pólvoras e do sangue que começava a secar.

- Acho melhor irmos, Yolanda. Já são cinco horas da manhã, tivemos sorte da polícia não aparecer, mas os abutres da imprensa vão acabar pintando aqui, quando não aparecer ninguém nas redações para trabalhar.

- Eu te amo, Romualdo, me beije.

- E eu te comi bem, maluquinha. Temos que repetir a dose.

- Nunca mais vou ser virgem, isso não dá para repetir.

- E eu nunca mais quero fazer algo desse tipo. Na hora foi emocionante, mas agora estou começando a ter vontade de vomitar. Está fedendo aqui.Vamos embora.

Romualdo levara roupas reserva para ele e sua nova amante. Sua Pajero tinha filmes fumê 90% nos vidros, mas ele não poderia chegar em casa daquele jeito, o chefe não entenderia seu ponto de vista. Uma passada rápida em um motel era tudo o que precisavam.

Nove horas da manhã, o telefone privado tocou em seus aposentos. Não era normal ouvir aquele som tão cedo.

- Venha tomar o café da manhã comigo, Romualdo.

- Sim, senhor.

Romualdo tinha uma certa intimidade com o Sr. Agenor, mas nunca havia sido convidado para compartilhar uma mesa de café da manhã. Ficou preocupado. Por que aquilo? Será que o chefe sabia de algo? Chegou lá apreensivo. A mesa extremamente farta e bem servida não conseguiu animá-lo.

- Que cara é essa, Romualdo?

- E-estou cansado, chefe. Tive uma noite cheia, quase não dormi.

- Pelo visto não foi o único. Temos algo a comemorar, Romualdo. Sabe o juizinho de merda que estava me enchendo?

- Claro, falamos dele ontem...

- Pois é. Tava vendo TV e não acreditei. Algum louco tocou o horror com duas uzi num bar de viados lá na cidade, não sobrou nenhum sem pelo menos duas azeitonas bem colocadas. Adivinha quem estava lá?

- Tá brincando.

- Sério. Ele tomou umas 20 azeitonas. Devem estar tirando ele do saco agora para autópsia. Fico pensando se isso foi coisa de algum fanático religioso...só dá doido nesse mundo mesmo. Metralhar um bar inteiro! Esse país é cheio de selvagens, eu sempre te disse.

- Só, chefe...

- Mas eu também fico pensando se esse juiz não era o alvo, e neguinho metralhou essa gente toda para disfarçar. Parando para pensar, seria um esquema genial para se livrar dele sem chamar tanta atenção. Cruel, mas genial. Eu jamais faria algo assim, é claro...inclusive eu tava aqui matutando: você não tem nada a ver com isso, né, Romualdo? Nuca te pedi para fazer nada disso pelos nossos negócios, nem vou pedir. VOCÊ NÃO TEM NADA A VER COM ISSO, NÉ, SEU LOUCO?

- Porra, chefe, claro que não! Tá pensando que eu sou algum tipo de serial killer?! Eu passei a noite toda com Yolanda, pode perguntar pra ela!

- Yolanda! Por isso você está cansado, né? Grande garoto...diz aí, era cabacinha?

- Era.

- Massa.