quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

COMMERCIO - Parte 3

- Bem, Romualdo, naturalmente você já tem fotos desse depravado fazendo as merdas dele?

- Não.

- Como não? Não vai adiantar a gente simplesmente espalhar que ele libera o botó: vai soar como boato, e nem o casamento dele vai foder, já que a esposa participa das merdas! Eu preciso de provas para ameaçar a reputação do camarada, para ver se ele abre as pernas - que, pelo visto, é a especialidade dele - e concorda em me deixar em paz! Por que você ainda não descolou essas porras de fotos, cacete? É o tipo de coisa que nem precisava eu mandar...

- A casa do cara é uma fortaleza, chefe, falei com uma porrada de detetive e eles já disseram para desistir... esse panaca já incomodou muita gente, e nós não somos os primeiros a querer ferrar com o camarada. Inclusive, dizem que uns três detetives já conseguiram entrar lá, só que não saíram. Um cara foi metódico o suficiente para acompanhar o tanto de ração de que ele comprava para os oito rotweillers dele, e chegou à conclusão que ele deixa os bichos permanentemente com fome só para atiçar, dá a ração só suficiente e olhe lá. Além disso, tem cerca elétrica, seguranças armados, trancas especiais, alarmes psico...tudo que é merda. Não dá para entrar lá nem fodendo, muito menos tirar foto.

- Até aí é padrão, mas porque você não pediu para algum dos travas levarem uma minicâmera, que nem os jornalistas? Coisa mais fácil, pô, qualquer jornalista incompetente desses por aí faz isso.

- Tentei, mas os travas não toparam fazer isso por dinheiro nenhum... e olha que eu ofereci bastante...

- Puta que o pariu, essa é boa, traveco cocainado com porra de ética! Era só o que me faltava mesmo...

- Nada a ver, chefe. Eles disseram é que na entrada da casa tem altos detectores do mal, umas maquininhas que sacam até para que lado o cara esconde o pau na calcinha. Além disso, diz que o tal juiz lá ameaça todos os travecos de morte se tentarem ferrar com ele.

- Bando de traveco viado...

- Traveco viado...porra, chefe, você é um gênio, sabia? De qualquer forma, o lance é que parece que ele já mandou uns três travas pra baixo da terra, inclusive um que fugiu para o Nepal depois de sacaneá-lo.

- Vá se foder. Putz, o cara mandou perseguir o trava do outro lado do mundo? Que bicho escroto... depois eu é que sou o bandido. Antes era só uma questão de negócios, mas agora começa a me dar um certo prazer a perspectiva de ferrar com esse cara, sabia?

- Mesmo, chefe? Por quê?

- Porra, Romualdo, eu detesto hipocrisia. Falso moralismo do caralho, o sujeito quer me ferrar só porque eu carrego minhas mercadorias de cima pra baixo sem frescura de alfândega nem nenhuma dessas viadagens... mas ele, que fica botando banca de honesto e certinho, é assassino e metido com coca. Você sabe que eu nunca mexi com droga, né?

- Sei sim chefe.

- Porra, droga é o fim, cara! Olha, eu sou um comerciante, e já comprei e vendi de tudo, bicho: eletrodoméstico, carro, metralhadora, tanque de guerra...uma vez até comprei plutônio dum russo que trouxe na mala pra cá, e fui lá no Iraque vender pro Saddam, na época ele ainda tava por cima! Aliás, foi uma transação que me rendeu uma grana massa...mas foda-se, o ponto é que NUNCA, nunca vendi um único papelote de coca! Uma única muca de maconha, nunca! Eu poderia ser dez vezes mais rico hoje, mas não! Drogas são do mal, arrasam famílias, acabam com qualquer um... só de saber que o cara que quer me ferrar é um cocainado me dá mais vontade de mandar ele para o espaço!

- Mas você disse que não era para matar ele, chefe!

- Não, não é mesmo. Se bem que dá vontade, mas não é para matar não! Matar é errado! Você vai ter que achar um jeito de conseguir o que eu quero, Romualdo, eu te pago é justamente para desfazer esse tipo de nó. Agora vai trabalhar...e vê se não chupa mais pica nenhuma no caminho!

- Porra chefe, pára com isso...

- Anda!

- Tá...

Mas Romualdo não foi trabalhar, não naquele momento. Ele tinha algo mais importante para fazer, e foi direto para a casa dos empregados, correndo. Lá encontrou Yolanda, desolada, com lágrimas nos olhos, em frente à televisão:

- Oi amorzinho.

- "Oi" o caralho, seu filho da puta! Bicha escrota! Você estava me enganando o tempo todo!

- Qué isso, gata, nada a ver...

- Romualdo, escuta bem aqui: se você é gay o problema é seu, mas porque brincar com meu coração? Achei que você me amava, seu sádico! Você ia fazer eu me apaixonar só para desfilar depois com um macho na minha frente? Ia dizer "Yolanda, esse é o Jair, meu novo namorado"? Você não tem coração não? Além disso...

- Yolanda, gata, me escuta! Você é uma mulher brasileira, esperta, sabe muito bem distinguir um homem dum gay...acha que eu tenho pinta de boiola? Fala sério!

- Esses são os piores! Os boiolas que você só descobre que são gays depois que se decepciona com eles... chuif... sabe, Romualdo, eu tenho um irmão boiola... mas ele desmunheca, ele usa roupa colada, faz luzes no cabelo... usa calça da Zoomp... não tem problema nenhum. Mas um cara másculo como você ser viado é o fim!

- Ô minha Yoiô, claro que eu não sou gay...o chefe só tava me zoando... o problema é que ele tem um jeito tão sério de falar que você pegou a conversa no meio e acabou achando que ele tava falando sério, mas não tem nada a ver. Por que não pergunta para ele?

- Eu não tenho autorização para conversar com ele, você sabe disso, Romualdo. Só quem conversa com ele é o Gervásio e a Dona Lourdes, a governanta, a gente só pode oferecer café e responder perguntas, o resto a gente faz pelas ordens dos dois. Você quer que eu perca meu emprego? Assim você se livra mais fácil de mim, né? Chuif...

- Não, meu amor, claro que eu não quero que você vá embora...quero você bem pertinho de mim, me dá um abraço...

- DESENCOSTA!!! Estou com nojo de você!

- Amor, eu faço qualquer coisa para te provar que não sou gay.

(Afinal, você é gostosa pra caramba e eu tô doido para te comer) - ele pensou, e continuou:

- Por que a gente não sai hoje à noite, eu te mostro com detalhes....

- SAI FORA GILLETÃO!! Não vou beijar pinto de boiola de tabela não...

- Assim a gente não vai chegar a lugar nenhum, Yoiô. Olha só, faço qualquer coisa para te provar que não sou boiola.

- Qualquer coisa mesmo?

- Prometo! Palavra de honra!

- Olha que eu sou exagerada...viu?

- Qualquer coisa, Yolanda, é só dizer!

- Só tem um jeito, Romualdo. Já sou doidinha mesmo por você, se você tirar essa dúvida da minha cabeça, já me ganhou. Olha só o que eu quero que você faça...

CONTINUA...