quinta-feira, 14 de julho de 2005

DE CATREVAGE A PEDERASTA
Essa eu li no site do jornal O MOSSOROENSE e, tendo em vista que aqui todo mundo ama a cidade de Mossoró, tive de postar para que o resto da comandita que lê esta muléstia do cachorro de blog tomasse conhecimento. Segue o texto.

Eis uma palavra desconhecida pelo famigerado corretor ortográfico do Microsoft Word: catrevage, que segundo o Houaiss pode significar sobra de materiais de construção, monte de quaisquer objetos, súcia de malandros ou móveis e utensílios pobres. A palavra, usada na descrição do Espaço Crônico (www.cidaugusto.blog-se.com.br), é apenas uma das pérolas do meu vocabulário arcaico, motivo freqüente de gargalhadas.
A turma ri, e não é pouco, quando falo coisas assim. A tropa de casa, por exemplo, não me deixa em paz, porque me recuso a usar "creme dental", "condicionador de cabelo" e a enfiar "cinto" nas calças. Insisto em pedir "pasta" para escovar os dentes, "creme rinse" para engordar caspa e "cinturão" para impedir que o fundo das calças bata nos pés. Nada contra o vocabulário moderno, apenas me acostumei com certos nomes.
Sexta-feira, antes de bater o tradicional ponto no Bar do Ku, em Natal, acompanhei mamãe à gravação de uma entrevista dela na TV Assembléia, programa Sala de Imprensa, comandado pelo jornalista Roberto Guedes. Disse a dona Sandra, em determinado instante, que Fulano de Tal dos Anzóis Pereira dera um "passamento". Ela riu: "Passamento! Ave Maria, meu filho, há muito tempo eu não escutava essa palavra".
Minha mulher, Maria da Conceição, que agora deu para falar de mim (que tenho chulé, que acordo com remela nos olhos, que minha orelha esquerda é de abano), sabe de minha paixão por palavras com cheiro de naftalina, mas não se acostuma, mesmo depois de duzentos e trinta anos de convivência conjugal e de guerra contra o relógio. Há pouco, estava "mangando" porque pedi um simples "caneco" d'água a Cid Filho.
Dona Conceição é fogo, vive achando graça dos meus termos: "cachete", "oxe!", "ruge", "matraca", "peia", "cocorote", "biloura", "carão", "peba", "pereba", "maricas". Falando em maricas, o conhecimento de velhos vocábulos evita que eu caia em esparrelas, tipo um amigo que, ao ver uma menina de seus 17 anos, lépida e fagueira no setor cinco da UFRN, encheu o peito de orgulho e disparou: "Cid, eu sou um pederasta!".
Fiquei apreensivo com a tal revelação, feita daquela forma abrupta, em voz alta. "Será uma cantada, um desabafo, será o quê?", perguntei a meus botões, mas eles estavam mudos de susto e tão curiosos quanto eu para saber os motivos de o cara sair do guarda-roupa justo ali, sem subterfúgios, sem metáforas, sem medo, pronto para enfrentar o mundo machista e os preconceitos dos Severinos e Jece Valadões desta vida.
Depois percebi tratar-se de um mal-entendido. "Eu sou um pederasta!", repetiu o sujeito, esclarecendo: "Adoro meninas de 17 anos". Tratando-se de um amigo, tomei a liberdade de tranqüilizá-lo: "Não se afobe tanto. Relacionamento sadio com moça de 17 não é caso de polícia, afinal, PEDOFILIA é a atração sexual por crianças, não por adolescentes bem resolvidas, e PEDERASTIA é uma opção desde a Antiguidade".
CID AUGUSTO E-MAIL: cid@digizap.com.br