sexta-feira, 2 de janeiro de 2004

REVEILLON BULDOZER - Parte 1

Fim de ano, Reveillon, combinamos de comemorar, é lógico. Como bons unha-de-fome, combinamos de ir à Esplanada dos Ministérios assistir aos fogos e aos shows toscos que o governo do DF promove todo ano lá, no gramadão. Apesar da distância, resolvemos deixar os carros próximos a uma Delegacia no Setor Comercial Norte, por razões óbvias, e então eu, Reinaldo e Demetrius com a namorada e a prima chegamos lá às 23:30h e, é claro, no momento em que descemos dos carros, começou a chuviscar.

- Deus não gosta mesmo de pobre – eu disse – além de sempre chover às oito da manhã e seis da tarde, tenho certeza que ele vai fazer questão de foder o Reveillon do povão lá na Esplanada.

- É. Vamos para a casa do Léo. – Reinaldo falou, e eu concordei.

Após uma rápida votação, Demetrius e as meninas resolveram que iríamos para a Esplanada. Andamos menos de 700 metros, e a chuva desabou torrencial. Corremos para baixo de um viaduto, e o Demetrius, que sabiamente não queria passar o Reveillon debaixo da ponte, se ofereceu para correr debaixo da tormenta e pegar meu carro, o que rolou.

- Foda-se a democracia – eu disse – vamos lá para a minha casa, ainda dá tempo de chegar antes de meia-noite. Reinaldo concordou.

Com ou sem a concordância da galera, fomos lá para casa, porque se por um lado não sou feito de açúcar, por outro não tenho guelras. Minha varanda tem uma vista bem panorâmica, dá para ver a Asa Norte e o Lago Norte , bem bacana mesmo. Estouramos um champanhe, abrimos um uísque, botamos música para rodar...era pouca gente, mas achei que íamos ficar numa boa, vendo os fogos da cidade inteira (inclusive os da Esplanada)...meia-noite e meia reparei que, apesar da namorada do Demetrius estar aparentemente numa boa, a prima dela estava com um bico de fazer inveja ao Pato Donald...eu disse:

- Deixa só a gente acabar esse copo de uísque e a gente vai para Esplanada, ok? Já parou de chover mesmo.

E foi assim. Paramos lá na Esplanada mesmo, e fomos em direção ao show. Depois que a gente rodou um pouco por lá, fiquei sabendo que as meninas estavam procurando os parentes delas, entre as dezenas de milhares de pessoas que haviam por lá, baseadas em uma informação de celular dizendo que eles estariam “à direita do palco”. Achei a idéia fantástica, e comentei isso com o Demetrius e o Reinaldo. Não sei se as meninas ouviram, mas vi a namorada do Demetrius tendo uma conversa rápida com ele, e saindo andando e fazendo bico, as duas dessa vez. A conversa deve ter sido produtiva, porque de repente o Demetrius pareceu bem puto. Após vinte minutos esperando elas voltarem, decidimos ir para uma tal festa techno que haveria no Park Way...foi aí que nossos problemas começaram.

Eu já estava sabendo dessa festa, e não estava muito animado:

- Reinaldo, sinceramente: você acha que alguém que coloca o Lauro no caixa pode estar fazendo uma festa organizada e bem planejada?
- É verdade...o Lauro é um cara honesto, mas com aquele jeito de mané dele para dar um troco errado, ou alguma merda do tipo, é daqui prali...

Nós fomos para o cafundó do Judas do Park Way, mesmo assim. Acreditávamos que por ser o único evento desse tipo em Brasília no dia, poderia ir gente o suficiente para ser legal. Após a longa jornada até o final do universo, tivemos um choque no portão:

- Putz, só tem macho na porta dessa festa.
- Dezenas deles. Uma mulher aqui, outra ali.

Até então poderíamos ter direcionado de forma construtiva nosso livre-arbítrio. Poderíamos ter dado a meia-volta, economizado cento e cinco reais e ter pego o caminho de volta até a Esplanada dos Ministérios, para promover um pequeno pedaço da paz na Terra, e tentado ajudar na reconciliação entre o Demetrius e sua garota no começo de um novo ano. Mas como para isso teríamos que localizá-las “à direita do palco”, achamos melhor entrar na festa. E foi aí que nossa “diversão” começou...