Quem me conhece sabe que eu tenho completo desprezo pelos seres que se autodenominam “críticos de cinema”. Se eu fosse fazer um post para cada crítica estúpida que leio, não ia sair da frente do computador. Tenho mais o que fazer, e redigir a “crítica da crítica” , na minha opinião, é o cúmulo da falta do que fazer. Mas essa merece: um ser de meio neurônio falando mal de “O Senhor dos Anéis”. Com vocês, a crítica da crítica, com o texto original em negrito e meus comentários em itálico:
POR QUE AS MULHERES NÃO GOSTAM DE "SENHOR DOS ANÉIS"?
Por Caryn James :: 16:58 21/12 - New York Times
Leo Corbusier: “As mulheres”? Fale por você, conheço um monte que adorou, e quase metade do público que estava na estréia das versões extendidas aqui em Brasília era de mulheres, muitas sem os namorados, por sinal.
Eu cronometrei meu bocejo em 50 minutos, embalada pelo excesso de montanhas azuis, truques computadorizados e um enredo tão confuso que tudo que eu sabia com certeza era que Gandalf havia pedido socorro. E se eu liguei se o socorro chegou? Não.
Leo Corbusier: Seu bocejo deve ter durado tanto pelo seu preparo para exercer sua atividade laboral com a boca aberta e os olhos fechados. Além disso, não entendeu o quê? A trama é linear, e se entrecruza menos do que as das novelas imbecis brasileiras, ou dos seriados americanos idiotas sobre turmas de amigos onde todo mundo trepa com todo mundo.
A parte final na trilogia de "Senhor dos Anéis" revela mais uma vez que o que seria um "filme para meninas" para os homens, essa trilogia representa para as mulheres - ou pelo menos para uma grande sociedade secreta feminina para quem a série não é mais do que uma festa de nerds, uma competição de paciência tecnologicamente impressionante, mas sem alma.
Leo Corbusier: Sociedade secreta? O que tem de secreto em um bando de imbecis descerebradas que só vêem sempre o mesmo filme previsível com o Richard Gere e Julia Roberts? E o que é “sem alma”? Por acaso os críticos agora usam médiuns para medir a qualidade de um filme? Além disso, o que tem alma, então, são as comédias românticas estúpidas com Richard Gere, que menininhas imbecis tanto amam, suponho?
Isso se mantém inclusive no mais recente e menos nerd dos episódios, "O Retorno do Rei" (ou, como aquelas com as prioridades definidas como nós gostam de pensar, "O Retorno de Viggo", nosso único consolo).
O filme chegou em uma nuvem de badalação na mídia que incluiu um hora inteira no programa Prime Time, da ABC, uma vaga de apresentador para Elijah Wood (Frodo) no Saturday Night Live, a capa da "Vanity Fair" para Viggo Mortensen (Aragorn, o Rei), o inevitável cheiro de Oscar.
Como as duas partes anteriores, esta também chegou com a irreparável pressão social sobre seu tamanho e seu espetáculo. Em uma versão cultural da incorreção política, expressar qualquer coisa menos do que elogios escancarados parece pouco esclarecido ou simplesmente rude.
Não há discussão sobre o sucesso comercial da série, é claro (mais de US$ 1,75 bilhão no mundo todo, e esta é apenas a renda dos cinemas, sem contar os DVDs).
Qualquer filme com essa popularidade tem de conseguir atrair público de todas as camadas de idade e sexo. Mas tanto as evidências demográficas quanto empíricas sugerem que a trilogia ainda é, primordialmente, um brinquedo de meninos.
Leo Corbusier: Pode ser, embora eu não ache. Se fosse verdade, isso apenas corroboraria a tese da superioridade da mente masculina. Se o “Senhor dos Anéis” é brinquedo de meninos, o que seria brinquedo de meninas? “Noiva em fuga”? “Kate and Leopold?” Não tem nem comparação...
A badalação e os elogios bem calculados (o New York Film Critics Circle na semana passada votou "O Retorno" como melhor filme) obscureceram o que a série realmente é: uma extravagância de efeitos ajustados a um medo masculino adolescente de sentimentos e o amor de magia high-tech.
Leo Corbusier: Medo masculino de sentimentos?! Isso é papo de mulher fresca na TPM! Além disso, os filmes são tão sentimentais que foram até criticados por isso! Suponho que o sentimento de amizade entre os personagens (tão zoado no filme, por sinal, por ser confundido por viadagem) não seja considerado um “sentimento”, então, na concepção da jornalista. Claro, mulheres como essa são daquele tipo que nem sabem bem o que significa “amizade”, só pensam em pegar macho e esse é o único sentimento que conhecem. Só tem amigas sem namorado, por sinal...
Esta não é uma opinião dissonante. O fator nerd masculino estava presente desde o primeiro episódio, "A Sociedade do Anel", que a New Line Cinema promoveu fortemente on-line para alcançar esse público. A promoção on-line ainda é uma grande parte da estratégia de marketing, com incontáveis sites de "Anéis" ajudando a sustentar os realmente fanáticos.
As pesquisas da própria empresa revelam informações intrigantes. Antes de "A Sociedade" estrear, em 2001, a New Line fez um estudo entre o público em potencial sobre o que sabiam dos romances de J.R.R. Tolkien nos quais os filmes são baseados. Os que em geral leram os livros eram os "mais velhos" (na linguagem de Hollywood, acima de 25 anos); 51% deles eram homens mais velhos, enquanto apenas 33% eram mulheres mais velhas.
Quando os dois primeiros filmes chegaram aos cinemas, as pesquisas na saída das salas mostraram que as mulheres eram menos entusiasmadas do que os homens; e uma pesquisa mais recente feita antes do lançamento de "O Retorno do Rei" mostra que os níveis de interesse "ainda se inclinam para os homens".
Mas não há tanta necessidade de ser científica. Faça uma pequena pesquisa em seu escritório. Eu encontrei um colega que viu o filme e disse: "Foi ótimo - é claro, eu sou um nerd". E tinha a minha colega que foi porque seu namorado queria ir, e que explicou seu próprio interesse dizendo: "Estou tão apaixonada pelo Viggo" (esse não é o nome do namorado dela).
Leo Corbusier: Mulheres sendo científicas?
Quando a mídia assume o fator nerd, é apenas para fazer com que ser nerd pareça nobre. Isso aconteceu no ano passado, quando um artigo no site Salon.com inteligentemente intitulado "Senhor dos Nerds" elogiou jogos de computador inspirados em Tolkien. Aconteceu mais uma vez na semana passada, quando o jornal britânico "The Guardian" elogiou "O Retorno" com um artigo chamado "Todos Somos Nerds Agora".
Há precedentes para isso, notadamente "Guerra nas Estrelas", o vovô de todos os filmes nerds. Como a trilogia "Senhor dos Anéis", "Guerra nas Estrelas" vem carregada de sua própria mitologia e inspirou uma horda (agora facilmente satirizada) de nerds.
Leo Corbusier: “ O Senhor dos Anéis” é uma história anterior a “Guerra nas Estrelas”, e além disso inspirou George Lucas na concepção das lutas de espadas, como o próprio disse. Mas não posso esperar que essa jornalista saiba o que é um “livro”.
Embaixo de uma capa de humanismo que permite que a audiência e os críticos pensem que os filmes são sobre Algo Grandioso - Bem e Mal! Pais e Filhos! - ambas as séries são realmente sobre efeitos especiais.
Leo Corbusier: Tolkien fez sua obra para retomar a tradição medieval dos contadores de histórias épicas. É claro que a história vai ser maniqueísta. E o uso de efeitos especiais não é o mote do filme, a não ser para uma pessoa que é confessamente burra demais para entendê-lo. Como não entende a história, só presta atenção nos efeitos. Isso acontece, é normal. Só não dá para entender como o “New York Times” dá emprego para alguém desse calibre.
Os sabres de luz de ontem são o Mount Doom de hoje. Eles oferecem um escape para um mundo imaginário de guerreiros, onde as emoções são faladas mas nunca realmente expressas - uma abordagem que é sempre fácil para garotos adolescentes entenderem.
Leo Corbusier: Escape? E histórias sobre casamentos perfeitos e romances melados entre pessoas lindas, ricas e malhadas são o quê?
Quem imaginaria que Peter Jackson iria dirigir filmes tão sem alma? Em seus melhores momentos, ele já misturou fantasia e realidade do dia-a-dia com um efeito impressionante, como em seu filme de 1994 "Almas Gêmeas", sobre duas garotas adolescentes que se cometeriam um assassinato para não serem separadas.
Durante sua amizade, elas criam um livro de contos que ganha vida na tela, enquanto seus pequenos objetos de argila de guerreiros e príncipes tomam as formas assustadoras de atores de tamanho natural com rostos verdes.
Leo Corbusier: Pelo menos, isso é mais elaborado que a eterna brincadeira de casinha das comédias românticas
É fácil traçar uma linha direta dessas garotas dançando com seus amigos imaginários até "Senhor dos Anéis". Mas enquanto Jackson faz das personagens em "Almas Gêmeas" seres bem humanos (talvez porque o filme é baseado em uma história real), ele raramente coloca na trilogia de "Anéis" um sentimento humano.
Leo Corbusier: Amizade, honra e lealdade são sentimentos alienígenas, então?
Como história, "O Retorno" é melhor que os filmes anteriores porque é marginalmente menos impressionado com suas próprias façanhas de efeitos visuais; já vimos tudo antes. Ainda assim, emoções reais são difíceis de serem encontradas, apesar de o final desesperadamente remeter a todas as cenas de despedidaimagináveis.
Leo Corbusier: Provavelmente você gostou mais de “O Retorno do Rei” porque tem uma cena de casamento com beijo prolongado, a única que você deve ter entendido.
As caracterizações são tão aleatórias que a personagem mais tocante não é o heróico hobbit Frodo ou mesmo Aragorn, tecnicamente humano, mas mais um rei de contos de fadas do que um homem. É o parceiro de Frodo, Sam, que literalmente segue Frodo até dentro do fogo. Sam é tão bem representado por Sean Astin que esse hobbit leal e afetuoso parece ser a figura mais humana na tela.
Isso é o que "Senhor dos Anéis" deveria fazer - fazer com que vejamos as almas dos hobbits, duendes e magos, e nos preocuparmos. Em vez disso, ele trabalha da forma como Jay Leno recentemente o descreveu. Você tem de ver cada filme quatro vezes, ele disse entusiasmado, para o caso de você ter perdido algum dragão perdido no canto direito, no alto da tela.
Leo Corbusier: Então Peter Jackson deveria se preocupar em hipercaracterizar os personagens e não contar história nenhuma? Quem sabe mostrar cenas do Sam comendo o Frodo "afetuosamente"? Aí não seria o Senhor dos Anéis, seria "Anéis de Couro", e seria um filme francês, e não neozelandês. Em tempo: não há dragões em “O Senhor dos Anéis”. Não fale merda.
O resto de nós, aqueles que mal conseguem distinguir Sauron de um Klingon ou um Jedi, ficam com algumas cenas humanas e o efeito Viggo. De mais de 9 horas (3h20 para "Retorno" e 5h58 para os outros dois combinados, para ser precisa como um nerd), isso não é suficiente.
Leo Corbusier: Não são suficientes seus dois neurônios para entender o filme, ou para distinguir o Yoda de Sauron. Uma dica: um tem um metro de altura; o outro, quatro.
Gostaria de esclarecer que não sou nenhum fanático por Senhor dos Anéis, mas achei essa crítica tão pseudointelectual que me senti praticamente obrigado a mandar bala. Esmagamentos são bem-vindos.
domingo, 21 de dezembro de 2003
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