segunda-feira, 13 de novembro de 2006

MANUAL PRÁTICO BULDOZER - como ser um PEDRA - Parte 3 (FINAL)

(Para ler a parte 1, clique aqui. Para ler a parte 2, clique aqui)


15) PEDRA ADORA CARRO GRANDE



Um pedra de verdade odeia carros pequenos. Se por um acaso você achar na rua um pedra dirigindo um Corsa ou um Ka, você pode ter certeza de que ele está dirigindo esses carros por pura falta de opção e a contragosto. Um carro para um pedra tem que ser bastante espaçoso para ele levar os "bróder" nos agitos, comer a mulherada sem precisar pagar um motel e carregar qualquer porcaria no porta-malas, incluindo cadáveres e os amigos bêbados. Não interessa se o carro é difícil de manobrar, se gasta muita gasolina ou se está caindo aos pedaços. O que importa é o tamanho da caranga! Os carros preferidos dos pedras são: Opalão (o favorito), Ômega, D20 (com cabine dupla, de preferência), Caravan, Del Rey e Landau.

Mas atenção: nem todo dono de carro grande é um pedra! Para você conseguir identificar com segurança se o cara é pedra ou não, observe se o carro está cheio de adesivos com mensagens do tipo "nóis capota, mas num breca!" ,"xoxoteiro", "sua mulher me ama" ou a clássica "ate cubanos" (leia essa última ao contrário). Além do tamanho do carro, outro fator que identifica um motorista pedra é o seu equipamento de som, o que nos leva ao próximo tópico...


16) PEDRA ADORA CARRO COM SOM POTENTE



O equipamento de som do carro de um pedra é a coisa de que ele tem mais orgulho no veículo. É tanto orgulho com essa merda que não é raro encontrar um pedra que tenha um equipamento de som que custe mais que o valor do próprio carro. Se um pedra tem um Opalão 77 que vale uns R$ 3.000, o som vale no mínimo R$ 5.000. Foda-se se o carro está com os pneus carecas, se a porta só abre por fora ou se um dos faróis está queimado. O que interessa é que o sonzão do carro seja "arrombado" e ensurdeça qualquer um que esteja em um raio de 5 km.

Pedras que têm carros com sons potentes costumam se encontrar em locais de pedra (como postos de gasolina e butecos de esquina) para tirar uma onda com o equipamento. É aquela famosa cena: os pedras ligam o som no volume máximo, abrem as portas e o porta-malas da caranga e ficam encostados de braços cruzados, com aquela cara de "qualé, maluco?". O curioso é quando vários pedras fazem isso em um mesmo local e cada um tenta mostrar que o seu som é o mais poderoso. Aí já viu: vira aquela poluição sonora de hip-hop, Calypso, funk, sertanejo, pagode, axé e qualquer outra porcaria musical que faça sucesso. Não é difícil também que essa disputa musical acabe terminando em pancadaria e tiroteiro (nunca se esqueça do tópico 10!).


17) PEDRA AMA O SBT



Silvio Santos teve a grande sacada de criar uma rede de televisão especificamente voltada para esse público. Tudo no SBT é toscamente voltado para os pedras: as vinhetas - a mais atual mostra um braço musculoso de PEDRA virando um holofote com a logo do SBT para as nuvens do céu noturno; os programas, como os clássicos programas do Sílvio e do Gugu no domingo, bem como a Hebe e a "Praça é Nossa"; os filmes escolhidos a dedo, sempre enlatados policiais ou de ação, e que passam em programas com títulos como "Cine Belas Artes". Lembro de uma entrevista que li com o Silvio Santos, onde se questionava porque o SBT havia decidido produzir novelas em outros países da América Latina:

- Aqui um capítulo me custa US$ 30.000,00, lá fora custa US$ 10.000,00. Se esses diretorezinhos querem fazer novela cheia de frescura pra ganhar prêmio em festival, não vai ser com meu dinheiro!

Outra pedreira à parte é o "Carnê do Baú", "Telesena" e congêneres. Fazem o cara comprar o título de capitalização mais mal-remunerado do mercado, distribuem meia dúzia de prêmios com chance de ganhar menor que a da Mega-sena, e ainda obrigam a pessoa a gastar o dinheiro capitalizado nas tais "Lojas do Baú", onde tudo é o dobro do preço! E os pedras caem!!! Ou melhor, rolam. Sem dúvida, os cenários com neon, os títulos de filmes traduzidos toscamente - sempre com finais como "do barulho", "da pesada", "mortal", "fatal" - e as reproduções com mínimas adaptações do pior da TV americana fazem do SBT a emissora preferida dos pedras, um verdadeiro asteróide em rota de colisão da cultura brasileira.


18) PEDRA AMA TUDO O QUE É DE GRAÇA

Se algum desequilibrado resolver comprar umas cem seringas descartáveis, misturar água com óleo de motor queimado num tonel enferrujado e pôr na porta da garagem uma placa "injeção de água do Porto de Santos na testa GRÁTIS", pode ter certeza: vai pintar uma fila quilométrica de pedras na porta. Todos com blusa estampada de feira aberta até o meio do peito, com um pobre pingente de alguma santa se afogando no suor imundo acumulado em meio aos pêlos que o pedra faz questão de manter aparentes. Se brincar, algum deles vai tentar furar e fila e aí já viu: a porrada come feio (vide item 10) e se alguém passar a menos de três metros da encrenca leva uns sopapos para aprender a ficar esperto e não se meter na treta alheia. Aliás, falando em furar fila, tem uma outra característica marcante dessa galera:


19) PEDRA VIVE PELA LEI DE GÉRSON



Pedra sente um prazer quase sexual quando depara com uma oportunidade de se dar bem às custas de algum otário (entenda-se aí por "otário" qualquer ser humano normal que dê um único segundo de bobeira). Se um caixa de loja exausto lhe dá um troco errado a mais, ele tem calafrios de prazer e embolsa a grana sem se preocupar se o cara vai conseguir fechar o caixa no fim do turno; se consegue passar uma garrafa de uísque importado no fundo do carrinho de mercado sem que a segurança perceba, tem orgamos múltiplos (mesmo que vá beber porcamente sem nem sentir o gosto, vide item 8); se a filha de 14 anos do melhor amigo dele bebe demais numa festa e desmaia, ele não perde a oportunidade de comer a menina se ninguém estiver vendo.

Por outro lado, esse espírito aproveitador faz com que o pedra se torne um dos alvos favoritos dos verdadeiros estelionatários, dos profissionais do crime mesmo. Um pedra é capaz de cair nas trapaças mais manjadas de todas, como os golpes do bilhete premiado e da máquina de fazer dinheiro, porque eles apelam justamente para o espírito de porco de quem quer ganhar dinheiro fácil. Agora, se você não sabe o que são golpes do "bilhete premiado" e o da "máquina de fazer dinheiro", não sou eu quem vai explicar. Deixe de ser pedra, pesquise e se informe para não pagar de pedra otário.


20) PEDRA NÃO TEM SENSO DE CONVENIÊNCIA



O verdadeiro pedra não perde nenhuma "oportunidade" de cantar uma mulher. Não escapa caixa de supermercado, vendedora de loja e até mesmo operadora de telemarketing, que têm obrigação de tratar o cara bem e não podem mandá-lo pentear macaco. "Porra, gatinha, tu tem uma voichhh líndia. A gente podia se conhecer, bater um papinho, tomar umas bramachhh e tals." Aliás, para pedra, mulher bonita não tem nome: é sempre "gatchinha", "goxtosa", e a preferida deles, "princesa", seja no boteco da esquina ou em ambiente de trabalho.

Na rua, então, nem se fale. Qualquer mulher minimamente bonita sabe que não dá para passar em branco perto de uma construção ou obra de qualquer tipo: é pouco quando rolam só os assovios, o normal são os comentários mais poéticos possíveis, gritados aos quatro ventos, de "que rabão, hein, minha filha?!!" para baixo. Motoristas profissionais em geral (de ônibus, caminhão e táxi, que por sinal são profissões tipicamente ocupadas por pedras), em especial, adoram "elogiar" as moças na rua quando passam perto com o carro ou param no sinal de trânsito. E não adianta tentar escapar pela tangente dizendo que é casada, ele sempre tem duas respostas na ponta da língua: "num sô ciumento, princesa", ou então "e daí? eu também", diz sorrindo com seu dente de ouro, mostrando o dedo com uma aliança da grossura de uma porca de pneu de trator.

O mais interessante é que aí entra um personagem especial: as mulheres pedra. Em tudo que se aplica elas seguem o estilão dos pedras, e molham as calcinhas ao entrar com ele no Opalão para ir ao pagode mais próximo, excitando-se com o cheiro de desodorante barato que exala das axilas do asteróide humano. Se vestem como putas pra sair, fazem o maior barraco quando levam chifre, choram e gritam quando apanham do maridão bêbado, mas nunca se separam do pedra, porque no fundo conhecem direitinho a peça com quem juntaram os trapos. São pessoas fundamentais em nossa sociedade e as grandes responsáveis pela reprodução dos pedras, pois adoram procriar e não se sentem realizadas enquanto não põem pelo menos mais uns cinco pedrinhas no mundo.


Reinaldo Bruto e Leo Corba