Legenda para ignorantes:
LC: Leo Corba
RB: Reinaldo Bruto
AS: Allan Sieber
LM: Lauro Montana
LI: Lima
RB: O que você acha dessas tribos urbanas do século XXI? Tipo indie, emo e tal?
AS: Foda que todas essas tribos são meio patrocinadas, assim, todas essas tribos moram com os pais e então são umas tribos meio de merda. Pô, pelo menos os hippies ... quer dizer, grande parte dos hippies morava com os pais também, mas alguns, sei lá, iam morar no meio do mato, fundavam uma comunidade, e os punks também, invadiam uma casa, iam fazer um squat e tal. Mas essas tribos de hoje em dia eu acho tudo meio bunda mole, não sei, eu também não estou muito por dentro.
LM: Tu não acha que foi criação de pai hippie não? Os hippies viraram pais, tiveram que trabalhar e ficaram com toda aquela psicologia de Secos e Molhados, de liberdade...
AS: É, tem aquela coisa clássica dos filhos serem sempre contra os pais, né?
LM: Cara, porque meu pai era milico, minha mãe mulher de milico...
AS: Acho que a melhor questão é uma questão conservadora, assim, você ter alguma coisa para se revoltar, uma coisa legal para se revoltar.
LM: Então teu pai deve ter sido da TFP, e tal...
AS: Meu pai era super, ultra rígido, assim. Eu acredito piamente que uma personalidade se constrói com pequenos traumas, né, tapas e socos!
LM: Nada como uma boa porrada para libertar o instinto criativo [risos].
RB: Allan, em muitas tiras você retrata alguma mulher escrota, fedida, que regula demais, xarope, etc. Já pegou muita mulher desse tipo na vida?
AS: Cara, eventualmente você, caindo na noite, cruza com diversos tipos de pessoas [risos]. Realmente não é a regra, mas, enfim, como diz um amigo meu, se você está na chuva é pra se queimar. É a sensação clássica do Vicente Mateus. [risos]
RB: E falando de mulher ainda: é o seu último dia de vida e você pode escolher uma mulher pra sua última foda. Quem seria? Qualquer uma, à vontade.
AS: Qualquer uma? Vamos ver...eu tinha uma obsessão por aquela japonesa que apresentava os desenhos lá na Globo...Suzuki, uma mina assim...acho que agora tá no Multishow.
RB: Daniela Suzuki. Seria ela?
AS: É, tinha um tempo que eu era meio obcecado por essa garota, acho que eu escolheria ela.
RB: Aí, continuando na putaria, todo artista tem tendência a ter um comportamento sexual esquisito: o Laerte se diz bi, o Crumb tem tara em pés. Mas e você? Também curte umas bizarrices ou fica só no papai-e-mamãe com Wando de trilha sonora?
AS: Cara, tipo, esse negócio da bizarrice depende muito de quem vê, né? [risos] Uma coisa bizarra pra mim pra você pode ser normal, uma coisa bizarra pra você, pô, pra mim rola todo dia, então é muito relativo. Tem coisas realmente bizarras, tipo comer merda, umas coisas que realmente não estão nos meus planos. Mas, enfim, acho que depende do acordo mútuo ali, das pessoas que estão envolvidas, nada é bizarro.
LC: Cara, que fixação é essa em anão besuntado?
AS: Anão besuntado...não, isso aí é coisa de um amigo meu, o Azeli, um desenhista gaúcho que agora mora em São Paulo, essa cara que veio com essa idéia. Sempre tinha uma história bizarra com um anão, sei lá, tava numa festa e um anão bolinou ele [risos], uma história envolvendo uma anão, e ele falava essa coisa do anão besuntado, "vamos fazer uma festa com anões besuntados" e tal. Então na verdade é uma, é...
RB:Tu pegou a piada dele.
AS: É, eu peguei a piada dele. Mas eu acho engraçado isso, anão besuntado.
RB: E você já esteve em Brasília antes? O que achou dessa merda?
AS: Cara, eu tive em Brasília só uma vez , em 99, quando "Deus é Pai" tava no Festival de Cinema.
LI: É, aí você teve lá na calourada da UnB, lembro que a gente encontrou contigo lá.
AS: Podicrê, eu fui pra vários lugares!
RB: Mas aí, tu curtiu Brasília ou...?
AS: Achei divertidíssimo, muito divertido, me diverti muito.
LM: Pra visitante sempre é bom, né?
AS: É, deve ser tipo Porto Alegre, pra visitar é ótimo, mas pra morar lá...
RB: Aí fica deprê.
AS: É complicado.
LI: Qual que era a revista, eu lembro que era muito engraçado, tinha um desenho do Ayrton Senna com o capacete quebrado?
AS: Era uma revista que eu fazia, chamada "Glória, Glória, Aleluia", era um zine, depois teve uns números mais como revista.
LI: Esse foi seu primeiro trabalho que saiu nacional?
AS: "Nacional" entre aspas, né? Eu fazia uma distribuição muito vagabunda, acho que eu cheguei a mandar pra Brasília, aqui.
LI: Eu achei em banca, o "Glória, Glória, Aleluia"
AS: [espantado] É mesmo, cara?! Ah, é porque teve uma época que eu acho que eu mandei uns pra comics, e eles tinham uma distribuidora, ou passavam pra outros caras que distribuíam em banca normal. Mas o "Glória, Glória" teve quatro números, assim, e era meu, dois saíram num ano, e aí demorou mais um ano pra sair outra, depois dois anos pra sair mais outra, deu os quatro.
LM: Uma coisa que eu percebi, assim, quando era moleque, no final da década de 80, é que revistas assim como Animal, Chiclete com Banana, a Circo...principalmente a Animal, que era uma revista que conseguiu assim integrar grandes artistas, principalmente da América Latina, europeus, independentes, foi uma revista que teve uma projeção filha da puta naquela época.
AS: A Animal, pro pessoal da minha geração, junto com a Chiclete, foi pai e mãe.
LM: Eu pensava, na década de 80, que a tendência era a parada estourar e no futuro revistas como Animal, e outras do mesmo porte, tivessem mais, fossem publicadas, e foi uma coisa que a gente não viu. E a gente já tá no começo do século XXI.
AS: Isso se deveu, acho, que a princípio às milhares de crises econômicas. Fudeu tudo, assim. Aí depois dessa limada no começo dos anos 90, não houve muita iniciativa das editoras, mesmo, de retomar essa história de revista formato mix, com vários autores, uns gringos, uns brasileiros, e tal. Que é uma coisa que a gente fazendo a "F" queria retomar, também disso, e tal, de ter uma revista na banca, mesmo, com vários autores, e de humor, né? Mas não sei, né? É que a banca hoje em dia é foda, é difícil você encontrar uma coisa na banca. Tipo, é bizarro, tem revista de cabelo curto; revista de cabelo ondulado; revista de cachorro grande, cachorro pequeno; peixe; caralho, tem revista de pneu, cara! É impossível você achar uma revista! Não, sério, é impossível, cara. Se não for um negócio tipo uma Playboy, uma Veja, você não acha a revista.
LC: Porque fica tudo encavalado, né?
AS: É! E tem DVD, caralho, difícil você achar um negócio, cara.
domingo, 13 de agosto de 2006
BULDOZER ENTREVISTA ALLAN SIEBER - parte 3
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