quinta-feira, 7 de julho de 2005

Drummond, o erótico - vol. 2




Texto enviado por Cida, my love

Aí está outra obra prima do Drummond, agora descrevendo o boquete. Vejam os dois últimos versos da terceira estrofe. Nele, por meio das palavras, o poeta reproduz o ápice do ato. É como se fosse o momento do orgasmo. Divirtam-se!


MIMOSA BOCA ERRANTE

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados,
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vai desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e na morte, de viver-me.

Já sei, a eternidade é puro orgasmo.