quinta-feira, 29 de julho de 2004

O cara com síndrome da "boa moça"





Texto enviado por Cida, my love


Anos atrás, eu morava em Ouro Preto e fazia um cursinho pré-vestibular organizado pelos alunos da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto). Entre os nativos que se sentavam no fundo da sala, conheci o filho de uma "respeitável" família ouropretana. Até então eu não sabia da "respeitável" família. O Pedro era alto, bonito, forte e parecia ser um cara legal, no mínimo, interessante. Ele chegou junto e rapidamente passamos a não assistir as aulas. Ficávamos no jardim. A pegada do cara era leve, mas boa, e o beijo ÓTIMO. Quem ia querer estudar?

Eu estava gostando do cara, mas namoro vai, namoro vem, dois meses se passaram e o Pedro nunca me tocava onde os outros caras sempre querem tocar nas garotas. Achava aquilo meio estranho. Será que o cara era gay? Era tímido? Queria casar virgem? Bom, demorei pra me resolver, mas decidi deixar a mão boba rolar, como quem não quer nada, para ver o que acontecia. Dava pra perceber que o cara ficava de pau duro, ainda com os beijos, mas NADA! Ele, no máximo, colocava a mão na minha barriga, nas pernas, e dava uns beijinhos mais quentes no meu pescoço. Tá!

Um dia, perto de meia noite, depois de uns amassos de leve dentro do carro, ele me chamou pra ir pro alto da Igreja Santa Efigênia, onde há uma bela vista da cidade. Eu pensei: "Oba! Vai rolar!" (mulheres também pensam essas coisas). Chegamos lá e o cara começou a conversar, conversar, conversar... O papo era bom, a vista estava linda, havia neblina, no entanto via-se a cidade no meio das nuvens. Eu comecei a provocá-lo de leve para mostrar que ele podia ir adiante nos amassos, depois fui mais ousada. E NADA!?

Como o cara não se manifestou, eu resolvi abrir o jogo. "Qual é?" E ele, muito assustado, não acreditava que eu estava querendo "algo mais": "Mas você é uma moça de família... Aqui é um lugar público... Na frente da igreja?" Meia noite, no alto de Sta Efigênia, uma vista linda, quase entre nuvens, frio, ninguém na rua, o vidro do carro embaçado... Tudo bem! Conversamos. Ele pediu um tempo, que eu tivesse paciência, que não era assim, não podia ser "tão" rápido (e as mulheres é que são complicadas?). Como eu gostava do Pedro, resolvi esperar o desencantamento. Quem sabe o príncipe virava sapo e a coisa rolava.

Dias depois, a irmã dele viajou com o marido e ele disse que ia ficar tomando conta da casa dela. Pedro me convidou pra ir até lá, disse que ficaríamos mais confortáveis e à vontade. Ahá!... Garoto! Pensei. Chegando lá, ele me ofereceu um vinho, ouvimos música e, de beijo em beijo, começamos no sofá e já estávamos no tapete. Até que enfim o Pedro resolveu dar uns amassinhos mais quentes (pouco mais quentes). Pensei que a coisa ia pegar. Que nada. Três horas depois, fiquei meio irritada e perguntei se ele me achava feia, pouco atraente (a gente acaba pensando isso, afinal os homens são ou não são os garanhões da parada?). O que estava acontecendo? Qual era a dele? Se não queria nada comigo, porque havia me chamado até lá? Nunca tinha visto um homem assim.

Sabem o que ele respondeu? Que a irmã deixou que ele tomasse conta da casa porque confiava nele. Ele era um garoto de família – um bom moço – e não ia fazer "festinha" na casa da irmã. "Ela mal virou as costas!", dizia o Pedro. Argh!... Pasmem meninos, as meninas também se enchem com tanto moralismo e hipocrisia. E desde quando sexo passou a se chamar "festinha"? O que vocês acham desse cara? Quatro meses de namoro...

Mulher também tem umas esquisitices: mesmo assim continuei namorando o Pedro "do jeito dele" e até fiquei com vergonha, achando que forcei a barra, pois o papel de "atacante", pra muita gente, ainda parece ser um papel masculino. Ficamos mais um mês e um babaca inventou que tinha me dado um pega. Ele terminou comigo – chorando, dizendo que me adorava, que eu não podia ter feito isso, que eu devia ter esperado. Eu passei no vestibular e fui morar numa república, o que me afastou dos nativos. Ele teve de estudar mais um pouco. Anos depois... (vejam o próximo episódio).