MELHORES MOMENTOS BULDOZER
Faltam dois dias para o aniversário do blog...segunda-feira, dia 27/10, vamos comemorar o aniversário do Buldozer. Seguindo a linha iniciada essa semana, apresento aqui um post datado de 07/12/2002, que se liga ao texto original do blog, recém-republicado, o Porque resolvi virar playboy. Nesse tempo, eu ainda morava com a mamma no Park Away e estudava na UnB. Agora, fico olhando para o teto sozinho em casa e faço cursinho. Será que evoluí? Com vocês;
Porque resolvi virar playboy – Observações Antropológicas
Após minha decisão de virar playba, minha visão de mundo se ampliou, ou como diria o Reinaldo, meus horizontes estão muito mais alargados. Todo um mundo novo se descortinou à minha frente, com seus próprios prazeres, agruras e dificuldades. A primeira das dificuldades é pagar essa porra de carro que eu inventei de comprar...como está indo quase a metade do meu salário, não está sobrando nada para encher a cara na rua, porque eu tinha umas dívidas aí...mas quando eu terminar de pagá-las (o que deve rolar até o fim do ano) a coisa melhora...bem, foda-se. Esse post não é para chorar falta de grana, mas para tentar analisar um ritual quase padrão dos playbas...transformar posto de gasolina em bobódromo...então lá vai:
A RELAÇÃO ENTRE OS PLAYBOYS E OS POSTOS DE GASOLINA
Na época em que eu era um legítimo gordocult (agora sou só gordo), nunca entendi porque a playboyzada tanto gostava de encher a cara nas lojas de conveniência dos postos de gasolina. Afinal, o que poderia levar um sujeito a parar para beber justamente em um lugar pequeno, desconfortável e onde tudo é muito mais caro? Afinal, o Pão de Açúcar também estava aberto de madrugada e as coisas lá custavam muito menos...vejam só que pensamento mecanicista o meu!!! Vê-se logo que ser indie, além de tudo, é uma forma sutil de alienação! Ele é incapaz de compreender a profunda carga cultural que se sobrepõe no ícone “posto de gasolina” na cultura dos plays, por que não possui a vivência daquelas práticas sociais, e, assim como os europeus fizeram com os povos indígenas, desprezam e ridicularizam uma cultura que não compreendem.
Um playboy têm uma relação muito estreita com os postos de gasolina, por que playboy valoriza o carro que tem (ou que pega emprestado com o papai). Não são que nem certos caras que eu conheço, que não se dignam sequer a botar um radinho no seu Kadett...eles fazem questão de manter seus carros limpos, arrumados e cheios de acessórios bacanas. Para manterem suas carangas no melhor estado possível, estão sempre em postos de gasolina comprando produtos automotivos de toda a sorte, lavando o carro (quem nunca presenciou a cena de um playboy lavando os tapetes do carro na fila da lavagem grátis?), ou mesmo dando em cima do frentista, se forem playboys que apreciem algumas práticas pouco ortodoxas (você chega lá, Reinaldo). Assim, posto de gasolina é cultura. É o local que, literalmente, abastece o modo de vida do playboy. Alguns, percebendo essa tendência, vendem até mesmo pneus e rodas esportivas, para alegria geral da galera (menos daqueles que têm suas rodas roubadas, fonte muito comum do produto vendido nos postos).
Aqui em Brasília, eu acreditava que essa tendência estava diminuindo, porque os condomínios dos prédios próximos aos postos estavam jogando pesado contra...não gostavam do fato do pessoal se reunir nas lojas de conveniência dos postos, colocar o som dos carros bem alto (quer dormir? Foda-se!) com o tampão do porta-malas aberto (existe prática mais genuinamente play do que essa?) e fazendo uma bela bagunça...aliciaram até um deputado local, e quase conseguiram aprovar uma lei proibindo os postos de venderem bebidas alcoólicas (sob o argumento que não deveriam ser vendidas em locais freqüentados tipicamente por pessoas que estavam dirigindo)...ainda bem que isso não deu certo. Contudo, eles estavam conseguindo muita coisa na polícia e na justiça, por que de fato ninguém conseguiu ainda revogar a lei do silêncio, e para evitar encrenca os postos estavam proibindo a turma de ligar o som. Eis que, um dia desses, voltando para casa de madrugada, parei no posto próximo ao Aeroporto para comprar cigarros para a mamma, e...que surpresa! Estava uma autêntica festa no lugar, muito maior do que jamais foi nos postos do Plano Piloto...e aí pensei “porra, genial! Aqui os caras não incomodam ninguém!” . Isso é para quem gosta de dizer que playboy não pensa...um cara num Kaddet muito parecido com o do Reinaldo ligou umas caixas de som gigantes do seu porta-malas no toca-CD de um outro carro, um Chevvete...e estava rolando a festa, a mulherada dançando de leve, os plays bebendo... e era muita gente. Então, meio que sem perceber, fui, comprei uma Malzbier, encostei no carro e fiquei lá, só na butuca, paradão, secando as meninas...e então caí em cheio na realidade: “putz, estou internalizando esse lance de playba! Olha eu aqui!” Como tinha pouca menina por lá, achei melhor entrar no carro e ir embora, mas, vejam só...sem perceber, mesmo, estava lá, do nada. É.... se dois anos atrás eu pudesse prever essa cena, talvez eu ficasse triste, mas hoje acho bacana esse lance, ver como a gente muda e evolui.
P.S.: Falando em observações antropológicas, hoje, dia 25 de outubro de 2003, percebi os dois primeiros fios de cabelo branco em minhas têmporas...é, o poço não tem fundo mesmo. Será que vou ter que converter meu projeto de "virar playboy" para "virar coroa tarado"?
sábado, 25 de outubro de 2003
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