quinta-feira, 8 de maio de 2003

Carandiru- a comédia do cárcere privado!

Ja faz um tempinho que assisti Carandiru com o Leo, e como achei o filme uma porcaria nem me dei ao trabalho de fazer um post a respeito. Mas como o Leo me mandou um mail pedindo com o maior carinho (hmmmmm...) para que eu escrevesse algo a respeito do filme, aqui vai então minhas sutis observações sobre essa joça.

Antes de mais nada, esperava que Carandiru fosse um filme pesado, dark mesmo, daqueles que as pessoas saem mudas do cinema e os namorados saem consolando as namoradas que choraram metade do filme. Mas na saída o que vi? Gente rindo ( e muito), casais sorridentes e adolescentes falantes indo correndo comer no McDonalds. O Leo mesmo me cutucou e comentou:

- Porra cara...ir para a cadeia é essa alegria toda? Mulher te disputando no tapa e tudo mais?
- É verdade...deu até vontade de ser bandido!

Para quem não sabe, o filme é baseado no livro Estação carandiru, que foi escrito pelo médico Drauzio Varela. Drauzio trabalhou na penitenciária ate o dia do fatidico massacre, e conta em detalhes no livro várias das "leis" da prisão, como a diferença entre os presos de cada pavilhão, certas regras de etiqueta, o deprezo aos presos que choram e varios outros detalhes interessantes. No filme, o doutor Drauzio é apresentado simplesmente como um autêntico banana, que ouve os "causos" dos bandidos com cara de bobo-alegre e faz uma ou outra recomendação sobre AIDS e drogas. E fica por isso mesmo. So faltou ele ensinar como colocar camisinha com a boca usando aquele cozinheiro negão como voluntário. Ia ser bacana, mas nem rolou.

O filme, de uma forma geral, narra de uma maneira bem light o dia-a-dia da famosa penitenciária. Dava ate para passar nos moldes de uma mini-série da Globo logo após a novela das seis. Os dialogos ficaram no melhor estilo de filme policial americano ("eles me armaram essa cara!"), quase não há palavrões, não vemos nenhuma cena sexual agressiva (nenhum estuprador é enrabado; gays não aparecem injetando sêmem no ânus alheio,etc.) e nenhuma cena realmente impactante de presos usando drogas. Além disso tudo, todo bandido é legal e simpatico, ninguem matou inocente e todo mundo acha lindo o amor de Sem-chance e o traveco Lady Di. Falando em Lady Di, aqui vai mais um comentario: nunca vi um papel tão ridiculo ser tão bem falado pela imprensa "especializada". Esperava que Rodrigo Santoro de travesti fosse um papel realmente dramatico, e não cômico. Logo que vi a primeira cena do tal travesti (com o cinema inteiro caindo na gargalhada) pensei: "Pô, acho que daria um personagem legal no Zorra Total...". Sinceramente, pensei que a Lady Di fosse apresentada contando um pouco da sua vida trash de travesti, narrando por exemplo algum episodio em que fosse enrabada na marra por PMs tarados ou fosse espancada por playboys desocupados. Mas nem de perto vi isso. O que vi foi um traveco estereotipado, a la personagem de Chico Anysio, que tem um caso com um cearense feio para cacete (o Sem-chance) e, mesmo tendo se deitado com mais de 2000 parceiros, não tem AIDS. Quer alegria maior que essa? Além de Rodrigo Santoro, vemos vários atores da Globo em papeis igualmente patéticos. Como exemplo temos o galãzinho Caio Blat, que interpreta um pobre-menino-bom-corrompido-pelas-más-influências que vai preso ao matar os estupradores de sua irmã. Caio Blat no papel de bandido bonzinho ficou tão deslocado e nonsense como seria colocar Charles Bronson no papel de stripper árabe na novela das oito. E o Floriano Peixoto (aquele que interpretava o travesti Sarita numa novela dessas, lembram?) fazendo papel de assaltante de carro-forte? Sem comentarios...

Por fim, temos a parte mais aguardada e "chocante" do filme: o massacre dos presos do pavilhão 9. Se você é sadico, e se amarra em ver gente morrendo e sendo trucidada friamente nos filmes, aqui vai um pequeno aviso: são mais de 2 horas de filme, e o massacre ocupa apenas a parte final, que são uns 20 minutos. Não te desanimei? Então mais um balde de água fria: o massacre não empolga em nenhum momento, os tiroteios são sonolentos e as mortes chatas para cacete. Parecia filme B de ação, tamanho o amadorismo da coisa. Os policiais são apresentados como psicopatas sádicos e sanguinarios, e os presos como pobres inocentes que distribuem beijos e incenso floral durante as rebeliões. Mais tendencioso impossivel. Vale destacar a "melhor"cena do massacre: um policial entra numa cela, onde encontra todos os detentos mortos. De repente, levanta um um detendo no meio dos cadaveres com cara de pena e as mãos para cima. "É...vou deixar você vivo para contar historia", diz o PM psicotico, que logo sai da cela. Uns segundos depois ele volta e diz com cara de Freddy Krueger "mudei de idéia", e metralha o coitado. Constrangedor.

O que mais me assustou nesse filme é que ele não foi feito por um zé mané qualquer, mas sim por Hector Babenco, que dirigiu entre outras pérolas Pixote, alei do mais fraco, que dá de 10 nessa porcaria de filme. Ah, e antes que algum pseudo-intelectual de botequim venha me criticar falando que eu estava esperando um filme com a cara de Cidade de Deus, um aviso: não esperava nada disso; esperava apenas um filme que mostrasse a realidade crua de uma cadeia, e não um pastelão enfeitado com atores globais para agradar multidões. Peguem Pixote na locadora e façam uma comparação.

Reinaldo, o Bruto (ao som de Misfits-horror hotel)