segunda-feira, 24 de março de 2003

Léo acordando no domingo para ir trabalhar...

Acordo.

Ou melhor, sou retirado de um turbilhão confuso de pensamentos e lembranças que precisariam de mais umas quatro horas para que fossem chamados de sono, pelo blá
blá blá longínquo de um locutor de rádio que saía do rádio-relógio mal sintonizado. Entre isto e acordar há um abismo de diferença.

Sento na cama. Imediatamente o quarto dá uma volta completa em torno do que restou do meu fígado e eu lembro que estou de ressaca. O giro do quarto somado à sensação de que estou vestindo uma meia de algodão na língua estimulam o meu primeiro pensamento lúcido do dia, e talvez um dos únicos:

- Puta-que-pariu!!!

Depois de deitar e levantar umas 10 vezes, em uma dúvida cruel entre pedir demissão para dormir mais um pouco e chegar até o chuveiro para salvar o meu emprego, decido manter-me no mercado de trabalho e vou cambaleando até o banheiro.

Faço uma parada na cozinha e tomo 750 ml de água no bico da garrafa térmica. Os 250 ml restantes escorrem pelos
cantos da boca.

Chego até o espelho do banheiro, vejo o meu reflexo com um misto de pena e uma expressão do tipo depois-eu-converso-com-você-cara. Preguiçosamente começo a
escovar os dentes. A secura da desidratação alcoólica molhada pela água há pouco ingerida formaram uma gosma espessa de cuspe que em contato com a pasta de dentes começa a produzir uma quantidade inominável de espuma na minha boca.

Depois de quase engasgar, entro no chuveiro determinado a tomar um banho gelado. Mas ainda não foi desta vez. Eu tenho alguns pensamentos recorrentes quando estou de ressaca, como a obrigação auto-impingida de tomar um banho frio, parar de fumar pelas próximas três semanas, e outras mais comuns.

É claro que, como toda promessa de ressaca, no dia seguinte você está fazendo tudo de novo.

Recomeço a função mecânica matinal, um tanto prejudicada por um conflito inequívoco de hardware. E aí você começa a lembrar da noite anterior. E aí começam os seus problemas.

Aquele beijo que você tentou arrancar a força da mina mais feia do lugar, e não conseguiu.

E finalmente, aquele momento em que você se tornou milionário, pediu uma garrafa de Taittinger para brincar de pódio de Fórmula 1 cantando tã tã tã!) e se alguém lhe pede um gole, você dá uma de egoísta.

Daí para frente, só o que você vai sentir ao longo do dia são pequenas dores -- morais e físicas, causadas pela noite anterior.

A taquicardia provocada pela quantidade paquidérmica de energéticos que você ingeriu, o telefonema do seu gerente do banco dizendo que só aumenta o seu, já estourado limite, se você fizer o tal do plano de previdência, o maço de cigarros todo úmido e amassado que você insiste em manter no bolso mesmo que jure para si mesmo que vai parar de fumar -- até que, depois de fingir que trabalhava o dia inteiro, chega o final do expediente, toca o telefone e você ouve aquela voz familiar:

- Faaaaala! Onde é a balada hoje?
...

Autor desconhecido - Melhorou agora??? Clareou seus horizontes??? Então descobre quem escreveu isso e vai atrás para mandar sua opinião seu paquiderme!!!