sexta-feira, 8 de novembro de 2002


Para começar, peço desculpas por no post anterior a carta do Daniel ter ficado confusa, a culpa não foi dele, foi minha que não configurei a mensagem direito. Quanto a você, Augusto, dispenso as chupadas no sovaco, principalmente se quem chupa é um cara que faz cunete. Além disso você quer que eu reconheça algo que não é verdade, não sou preconceituoso. Preconceituoso é aquele que emite opiniões sobre as pessoas baseado em senso comum. Exemplo de opinião preconceituosa:

“somos todos preconceituosos”

Essa afirmação têm todos os ingredientes do preconceito: generaliza todos indistintamente, não têm qualquer base em dados reais, se baseia em opinião pessoal ou ideologia de grupo e cai frente a uma boa análise lógica. Isso sim é preconceito, meu amigo. Preconceito é ler um textinho de blog e formar uma série de pré-conceitos (ou seja, conceitos prévios, sem conhecimento dos dados que o embasam) sobre quem escreveu. E se você acha que eu baseei minhas respostas em coisas que você não disse, não sou eu quem vai reescrever tudo para encher o saco de todos os seis leitores dessa baiúca. Quem quiser que vá lá e tire a prova, os textos continuam no ar, programei o blog para manter os últimos 25 posts.

Se você só lamenta por eu ser cristão, o problema é seu. Se você acha que o cristianismo é preconceituoso, é porque teve formação católica, que eu não tive. Quando se tocou da merda em que estava metido, achou que todos os cristãos acreditavam naquelas mesmas coisas que você, que não pode usar anticoncepcional, etc. ?? Bem, isso nada mais é que generalização, e generalização é a primeira das formas de preconceito. Quanto à moral cristã, ela gerou as sociedades mais liberais que temos hoje no planeta, mesmo que num processo para lá de dialético. Se você quer sociedades que realmente são uma merda em termos de preconceito, viaje ao Irã e tente defender os direitos da mulheres; à Índia e tente defender a igualdade dos homens perante a lei; à China e tente defender a liberdade de expressão; na sua mente, você pode continuar esse exercício à vontade. Quando tentar encontrar refúgio no Japão, lembre-se de que até a II Guerra eles achavam que o Imperador era um deus ( e alguns ainda acham), e até hoje dizem que lugar de mulher é dentro de casa.

Sempre usei argumentação em minhas respostas. Pena que ela não se dirija para onde vc quer. Se isso é autoritarismo para você, bem, aí é contigo.

Quanto às cotas: o artigo do deputado (quenão inseri e nem vou, quem quiser, dou o e-mail do Guto caso ele autorize) e a opinião do Augusto não apresentam nenhum dado objetivo para justificar o sistema de cotas. Apresentam tão somente dados do IBGE que apenas confirmam o que o Reinaldo disse: dê às populações pobres, da cor que seja cada indivíduo, boas condições de ensino e de vida, e esses grupos serão favorecidos de forma justa. Isso sim é política afirmativa e com eqüidade. Naturalmente uma população que descende de escravos terá, por um processo histórico, em sua maioria, condições de vida mais difíceis, mas isso não é menos verdade para todos os outros grupos que, por uma infinidade de razões, o processo histórico marginalizou. No entanto, a adoção de cotas discriminatórias (discriminatórias sim, pois partem do pressuposto de que o processo histórico tornou o negro menos apto a ingressar numa universidade, o que para mim é racismo puro) é uma política que afronta os princípios mais básicos dos citados direitos humanos e da ordem constitucional do país. Se cada afronta aos direitos humanos na História virasse cota em universidade, teria cotas para tantos grupos que seria impossível implantá-las. Como nem todos os grupos discriminados serão favorecidos por essas cotas, isso torna o projeto, no mínimo, intensamente injusto.
Quanto a alguns argumentos expendidos, são sofismas grosseiros. Os piores são:

1- "As cotas são defendidas por todos os movimentos negros do Brasil que estudam a desigualdade racial e o racismo brasileiro há décadas, devem estar errados mesmo né?"

Esse é um clássico sofisma conhecido como "argumento de autoridade". O simples fato de apresentar um argumento como verdadeiro porque ele foi emanado por autoridade no assunto já constitui um sofisma, e seu uso é mais comum ( e em geral inconsciente) quando um indivíduo se sente inferiorizado numa discussão. Torna-se grosseiro quando a autoridade em questão não está habilitada no assunto sobre o qual emite a opinião. Se Lula, por exemplo, autoridade em articulação política e liderança de massas, se metesse a emitir opiniões sobre Física Quântica, e eu aceitasse essa opinião como verdade porque o admiro, estaria aceitando um sofisma grosseiro, caso a opinião fosse errônea. Da mesma forma, se eu aceitar a opinião de uma entidade que defende grupos específicos como verdade para reger um mecanismo que diz respeito ao interesse de toda a população, estarei aceitando um sofisma igualmente grosseiro. É como definir uma política universitária baseado nas opiniões da FIESP ou do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, ou de associações de ex-presidiários, ou dos movimentos indígenas .

2 - "os argumentos que vc usa contra as cotas já ouvi milhares de vezes"

A quantidade de vezes que um argumento é usado não afeta o fato dele ser válido ou não, uma coisa não tem qualquer relação com a outra. Se ele for válido, o fato daquele que ouve não aceitá-lo como verdade apenas mostra que é um cabeça-dura e não está disposto a reformular suas idéias à luz da razão.

No caso em tela, vê-se claramente como é triste o efeito de métodos utilizados na manipulação de massas e lavagem cerebral de indivíduos por movimentos de pseudo-esquerda :

a) O indivíduo processa toda informação que chega através de um filtro ideológico, que se constitui em uma série de "verdades inquestionáveis" incutadas na mente do manipulado para substituir seu processo racional;

b) O processo argumentativo é substituído pela imposição de rótulos àquele que refuta as "verdades" da pseudo-esquerda. Nesse sentido, o caso foi paradigmático: fui chamado de "fascista-machista-racista-homofóbico" por alguém que até antes da lavagem cerebral sabia muito bem que não sou nada disso, e só por causa de um textinho de blog. Vale ressaltar a eficiência de tal método, que obriga àquele que discorda de se colocar em atitude defensiva antes de poder argumentar a favor de suas idéias. Isso foi o que fizeram com Lula nos últimos vinte anos, por exemplo.

c) O indivíduo perde o senso de humor, a não ser para discriminar os grupos que sua ideologia ojeriza. Por exemplo, é bastante comum em sujeitos de pseudo-esquerda adorarem piadas de judeus, mas considerarem as de negros ou de mulheres absolutamente inaceitáveis. Seu filtro ideológico não admite que o humor seja dirigido aos grupos que simplesmente defende ou dos quais participa. No caso, o Augusto achou que eu agiria como ele: disse que eu sou capaz de fazer piadas com indies mas que não acharia "nada engraçado" se ele fizesse piadas de rosacruzes. Hah, mal sabe ele!

Caro Augusto, caros leitores; se alguém me perguntasse se meu blog tem algum objetivo realmente sério, algo além de fazer humor, eu diria que pelo menos um ele tem: combater ferrenhamente a moda do politicamente correto. Foda-se, foda-se, foda-se. Daniel disse tudo:

4 - "Nosso humor sacaneará as minorias, as maiorias, homens, mulheres, viados, rosacruzes, evangélicos e o caralho de asa. Isso se chama igualdade".

Quanto à igualdade não estou nem aí, mas a idéia é essa. Sacanear tudo e todos. Se isso ferir as ideologiazinhas de alguém, só recomendo que dê uma viajada e respire outros ares que não os das reuniões do sindicato, CA ou DCE. Dê uma lida no Cocadaboa, leia o Preacher de Garth Ennis, volte a comer mulher, sei lá. E quando eu começar a sacanear o Lula (se eu votei nele? Claro que votei, mas e daí?), se alguém achar ruim, por favor, me mande um e-mail reclamando e me chamando de fascista, vou adorar responder!

Léo!