domingo, 2 de novembro de 2008

A SINA DE MARCOS - parte 03

- Pessoal, esse é o Kraut, meu marido, que veio aqui nos visitar nessa festinha. – disse Olga, sem muita empolgação, ao apresentar o Almirante Kraut aos seus colegas de trabalho.

Todos olharam com desconfiança para aquele homem de meia-idade, que certamente seria uns 15 anos mais velho e 15 centímetros mais baixo que sua esposa, mas não por isso, e sim por causa de seu traje de gala impecavelmente branco, cheio de indicações de medalhas no peito, cordas e mais cordas douradas por cima dos ombros, com o quepe embaixo do braço e postura altiva. Ele por acaso não sabia que era apenas uma confraternização informal? Ele notou o estranhamento, e fez o possível para descontrair:

- Por favor não reparem, estou vestido assim justamente pelo que me possibilitou comparecer aqui hoje: uma cerimônia que terminou cedo. Se eu passasse em casa e me vestisse a paisana, não daria tempo de vir curtir tão agradável companhia! Agora reparem, vocês vão conhecer a antiga técnica cerimonial militar de atacar o buffet sem deixar cair nenhuma sujeirinha no traje de gala, hahahahahaha!

Todos forçaram alguns risos e sorrisos, e começaram a comer e conversar. Kraut não se considerava um sujeito antipático e linha-dura, e buscava de todas as formas, especialmente em meios não-militares, desfazer qualquer mal-entendido nesse sentido, caso surgisse, como lhe pareceu ser o caso. Mas em determinado momento, sua formação falou mais forte, e ele não pode deixar de reparar no rapaz musculoso tão mais mal-vestido que os colegas, conversando com todos eles. Mas como era forte o rapaz! Seria certamente muito bem vindo na escola de oficiais, e ele gostaria muito de ser seu professor. Ora, mas que pensamento era aquele? Kraut lembrou a si mesmo da regra número um: nunca dar bandeira. Mas não conseguia parar de olhar aquele rapaz, ele certamente seria um bom cadete, e Kraut teria muito para lhe ensinar.

Olga, por sua vez, conseguia fazer aquilo para que havia se condicionado durante a última semana: não olhar para Marcos. Sabia que seu marido era muito observador, e não tinha a menor idéia de como reagiria se de alguma forma desconfiasse dela. Ela não tinha como saber, pois nunca havia dado motivo para desconfiança, e preferia deixar as coisas como estavam. Mas o que era aquilo? Mal Kraut se retirou da sala para ir ao banheiro, Marcos parou de conversar com os outros e se aproximou dela. Será que naquele dia ele finalmente a havia notado?! Chegou sussurrando em seu ouvido, ai que coisa excitante!

- Olga?
- [se derretendo] Sim?
- Não quero ser rude, mas...seu marido não tira o olho de mim. Quinze minutos seguidos! Chega a ser incômodo, é como se ele me despisse com os olhos.

Olga estourou e gritou em alto e bom som:

- PUTA QUE O PARIIIIU! ESTOU A TRÊS ANOS TE SECANDO SEM PARAR E VOCÊ NUNCA NEM DEU BOLA, E AGORA ME VEM COM ESSA! QUAL É A SUA, PORRA? NÃO GOSTA DE MULHER?! VOCÊ DESTRÓI MEU ORGULHO, MINHA AUTO-ESTIMA, E AGORA VEM FALAR MERDA, CARALHO?!!

Olga se arrependeu de forma imediata e profunda, mas já era tarde demais. Todos a olhavam com cara de espanto e estupefação, sem acreditar direito naquilo tudo que haviam presenciado. Todos sabiam que a chefe tinha atração por Marcos, mas nunca esperaram que aquela represa emocional se rompesse daquela forma. Olga não sabia o que fazer, a vontade que tinha era se enfiar em um buraco e nunca mais sair de lá. Sua visão se embaçou, e então ela ouviu aquela voz serena e amável de Marcos, respondendo sem se abalar:

- Você é a mulher mais bonita que eu já conheci. E eu notava quando me olhava, mas achei que estava apenas fiscalizando meu trabalho. Agora, vamos mudar de assunto que estou ouvindo passos no corredor, é o seu marido.

- Como sabe?!

- [sorrindo] Pelo ritmo preciso dos passos. Coisa de quem já marchou muito.

Marcos se afastou de Olga e pegou um salgadinho no buffet que havia sido improvisado nas mesas da repartição, e começou a comer de costas para a sua chefe. Yuri, por sua vez, não conseguia deixar de olhar para Olga, estava até agora de cara com o que havia acontecido. Como Marcos conseguia ficar tão sereno com aquela mulher espetacular o assediando? Após aquela declaração atropelada e emocionada, daquela belíssima loira perfeita? Antes achava que Marcos poderia ser gay, mas depois daquele diálogo não entendeu mais nada, só que aquela mulher era um avião...ele estava quase babando já. No momento em que o Almirante Kraut apareceu na sala, notou a admiração de Yuri, que demorou alguns segundos para notar a incerta e desviar o olhar. Kraut notou, e memorizou o rosto de Yuri para futura referência.

No fim de semana seguinte, numa bela tarde de sábado, Olga estava no apartamento de Marcos. O despojamento e limpeza do ambiente eram incríveis, Marcos só tinha um colchão de casal, um forno elétrico, um computador e um biombo em frente à porta. Seria ele zen-budista? Bem, não importava. Só o que contava naquele momento é que Marcos transava bem pra cacete. Estava na terceira sem tirar de dentro, sempre a mudando para as mais loucas e absurdas posições, ela já havia gozado duas vezes e ele seguia firme. Já a tinha acariciado, chupado, alisado, metido, e parecia não se cansar. Ela nunca tinha sentido algo assim. Havia se casado jovem, virgem, e seu marido, por muitos anos, a satisfez bem, mas só agora notara, nunca plenamente. Marcos era uma incrível máquina de sexo, aliás, máquina não: ele tinha carinho e percepção, não era simplesmente força. Ela começou a sentir algo que nunca antes havia sentido, só havia lido a respeito em revistas femininas: orgasmos múltiplos. Seus músculos se contraíam involuntariamente, e ela gemia tão alto que sentiu até vergonha:

- Oooooohh...eu...barulho...vizinhos...aaaaaaaaahhh...

- Fique à vontade...eeeh... meu apê tem revestimento...aaaah... isolamento acústico...uuuuuuuuuuuuhhhh!!!! – Marcos finalmente parou. Levantou do colchão, tirou a camisinha, deu um nó na abertura, foi ao banheiro, jogou no vaso e deu descarga, então voltou para o recinto – Além disso, meus “vizinhos” são as putas. Elas não ligariam, mesmo se ouvissem algo. Olha, vou pedir uma pizza pra gente. Quer de quê?

- [horrorizada] Pizza? Eu não como isso há anos, engorda...ah, que se dane, manda uma calabreza.

Olga ainda estava tremendo. Aquilo não havia sido uma simples transa, e sim uma obra de arte, uma sedução completa...ah, ela não estava raciocinando direito. Mas conseguiu comentar:

-Você transa muito...bom...qual...o segredo.

- Não tem muito segredo. Você já jogou Street Fighter no fliperama?

- Joguei o quê?!

-Street Fighter. É um joguinho de fliper que fazia muito sucesso quando eu era garoto. Foi ali que eu aprendi as manhas...

- Mas que conversa é essa?

- Olga, do meu ponto de vista, o sexo é como um videogame de luta cheio de combos. Você tem que praticar bastante, e quando está jogando, tem que estar focado naquilo. Tem que se movimentar com um timing super correto, ser rápido sem ser apressado, e é claro, saber todas as combinações de golpes para aplicar no momento certo... além de ter muitas fichas no bolso para sempre ter o “continue” de onde parou.

Olga não entendeu muito daquilo mas que se foda, importante é que foi bom. Era a primeira vez que transava com outro homem que não seu marido, e não sentia nem um pingo de arrependimento, porque tinha sido demais. Estava mais calma, serena como nunca após aquela transa maravilhosa, se fumasse certamente seria o momento do cigarrinho. Só percebeu uma coisa que a encucou no discurso de Marcos:

- Então você pratica bastante, né, safado? Tem namorada? Tá chifrando a menina?

- Nem, eu pratico com as putas aqui do prédio.

Olga ficou chocada. A imagem que tinha de Marcos não indicava que ele pudesse ser um sujeito putanheiro. Mas ele acabara de afirmá-lo, isso até esclarecia algo que a estava encucando:

- Bem que eu estranhei você escolher justamente essa quadra, cheia de putas, para morar. Agora está explicado, mas pra que isso, justo um cara como você, que é super atraente e não precisa disso?

- Eu não quero romance, Olga, nunca quis. Tive algumas namoradas na adolescência, mas elas me enchiam profundamente o saco. Hoje, vivo como quero e não preciso de ninguém dando pitaco na minha vida.

- Mas putas? Elas são sujas e safadas, Marcos, você não tem nojo? Elas transam com vários homens todo dia.

- Isso não me incomoda. Sabe, em determinado momento, eu simplesmente tinha desistido de me relacionar sexualmente, apesar de ser bom, notei que aquilo de namorar era uma grande fonte de aborrecimentos. Mas, por mais que eu batesse punheta, eu não conseguia me livrar do instinto sexual. Foi quando eu resolvi morar aqui na 315 norte. É super prático, só bater na porta da menina e pedir para entrar. Como eu sou cliente fixo, ganho até desconto.

- [rindo] Você ganha desconto porque é um gato, Marcos, não por estar sempre lá. Além disso, transa bem pra cacete. Elas é que deveriam pagar para te dar. Mas se você está tão satisfeito assim... se você não quer saber de namorar ... por que eu? Por que me deixou entrar na sua vida?

- [rindo] Porque você não entrou na minha vida, Olga, eu é que entrei na sua, hahahaha.

- [arremessando um travesseiro nele e rindo] Não seja tão tosco, estou falando sério, por quê?

- Você quer mesmo saber?

- Quero!

- Em primeiro lugar, porque você é bonita e gostosa. Fogosa também, como descobri, foi a melhor transa da minha vida. Além disso, você é casada. Não pode me fazer exigências, não pode se meter na minha vida, não pode me dizer como devo ser ou deixar de ser. Você é bem-vinda aqui, Olga, porque não tem moral nenhuma para me botar moral.

Naquele momento, todo o peso do que havia feito caiu em cima de Olga como uma bigorna de 16 toneladas de desenho animado. A partir daquele momento, ela não era mais a mulher exemplar de que sempre havia se orgulhado. Ela se tornara uma adúltera, uma mãe de família depravada, e uma chefe que havia se aproveitado de seu subordinado, tudo ao mesmo tempo. Começou a chorar, e não conseguia parar. Marcos demonstrou toda a sua sensibilidade e compaixão:

- Acho que é hora de você ir embora, Olga. Pelo visto, vou ter que comer a pizza sozinho.

Olga engoliu o choro e, se sentindo suja, literalmente fodida, vestiu suas roupas. Marcos a acompanhou até a porta, e quando ela saiu, disse carinhosamente:

- Até a próxima. – e fechou a porta.

Marcos ligou seu computador e começou a jogar GTA - San Andreas, com o seu som de 5 caixas ligado no último volume.