quinta-feira, 9 de dezembro de 2004

BULDOZER ENTREVISTA GUILHERME CAMPOS


Guilherme Campos, com sua pose Stanley Kubrick


Após muito implorar, conseguimos um pequeno espaço na agenda do diretor de Sequestramos Augusto César (leia a crítica aqui) para uma entrevista rápida. As perguntas foram feitas em conjunto por mim e pelo Leo, e enviadas por e-mail. Curtam com cerveja essa entrevista exclusiva:

Legenda para ignorantes:
B- Buldozer
GC- Guilherme Campos

B: Qual foi o seu critério para escolher Lauro Montana como protagonista do seu filme? Falta de opções? Desespero? Atração física?

GC: Faltavam apenas alguns dias para as gravações e ainda não tínhamos o protagonista, então o J.Procópio, meu Assistente de Direção, disse que conhecia o Montana, que ele não sabia interpretar muito bem mas o papel era exatamente a cara dele, que esse era o tipo de coisas que ele faria. Conversando com ele percebi que era verdade: o Montana ERA o Marcão. Por uma semana nós gravamos o filme usando uma câmera escondida e só contamos ao Montana que estávamos fazendo um filme depois da última cena. Ele não entendeu muito bem, perguntou se era pegadinha do Faustão e tal... Esse é o segredo do Montana: ele não estava atuando.

B: De onde você tirou a idéia desse filme? Lauro já te pediu algum favor?

GC: Não, eu conheci o Lauro já na pré-produção do filme. Mas tem um amigo meu, o João, que era dono do Monza azul que a gente usou no filme, que foi de onde eu me inspirei. O cara é tão mercenário que embora o carro dele valesse uns 500 contos, me fez gastar uns 400 em óleo, álcool, e em uma lata de cola que até hoje eu não entendi bem qual a relação disso com o carro.

B: Como você conseguiu a cooperação da DOE (Divisão de Operações Especiais)? Já tocou piano na mão dos caras?

GC: Não entendi o "tocou piano", mas no Papá [nota: Papá é outro filme da Lumiô, em 35mm, que também participou do Festival na Mostra Brasília] a gente foi atrás da DOE da Polícia Civil e os caras foram super solícitos, emprestaram várias armas, três viaturas, um helicóptero e alguns policiais que atuaram no filme. O único problema é que de vez em quando que tínhamos que mudar a data das gravações porque eles estavam explodindo alguma boca no Rio ou São Paulo. Os caras são super gente boa, toparam fazer o Seqüestramos Augusto César também na maior boa vontade. Só espero que eles nunca tenham raiva de mim...

B: Vocês realmente compraram um salmão para aquela cena do jantar no cativeiro?

GC: É claro que não. Eu que estava bancando o filme. Todas aquelas carnes como picanha, maminha, etc, eram todas músculo. Falei com a produção: comprem a carne mais barata. Por isso não aparecem elas de frente. Já a do salmão precisava aparecer, então descobrimos que surubim é bem parecido com salmão. Na verdade não parece porra nenhuma, mas eu não ia comprar salmão. Acabou que no vídeo funcionou bem. E mais um detalhe, a cena com o peixe assado foi no dia seguinte, ele já estava fedendo e a produção preparou ele com tanto sal que estava bem nojento. Eu comi um pedacinho pequeno e quase vomitei, tive que cuspir o peixe na hora. O Lauro e o Edu mandaram muito bem em conseguir convencer que aquela merda tava gostosa...

B: Foi o Lauro que bateu o carro da produção?

GC: Adivinha!

B: Você disse na abertura do Festival que começou a namorar a maquiadora durante as filmagens. Você acha que a imagem intelectual e sensível do diretor de um filme é sensual para as mulheres?

GC: Eu não comecei a namorar a maquiadora durante as gravações não, foi só um bom tempo depois. Essa estória de diretor sensível é papo furado. Cara, que mina hoje quer um cara intelectual e sensível? Só se for pra ser o cabeleireiro dela... Na verdade, quem pega mina com filme são os atores, e isso é um dos critérios mais importantes quando se está escolhendo o casting: só pode ter ator feio, senão não sobra pro diretor. Deu para perceber isso no filme?

B: Você gostava dos Trapalhões? Você se inspirou no finado quarteto para bolar algumas cenas? O Lauro atuando não te lembrou o Mussum?

GC: Sempre gostei dos Trapalhões, mas não me inspirei neles não, pelo menos não conscientemente. Quanto ao Montana, ele já tinha citado o Mussum algumas vezes e eu reparei que no set ele sempre estava com um livro na mão nas horas vagas, mas nunca deixava a gente ver qual era. Mas quando ele deu mole eu consegui descobrir: "Mussum: um homem, um ator, uma vida". A biografia do Mussum é seu livro de cabeceira.

B: O que você achou de seu filme ter recebido menção honrosa no Festival de Brasília?

GC: Menção Honrosa é aquele prêmio que quando sai você já sabe que não ganhou mais porra nenhuma. É como se dissessem: olha, teu filme é legalzinho, mas como não ganhou nada, toma aqui uma menção honrosa. Já fiquei de cara de ter ganhado o prêmio da Câmara Legislativa com um filme politicamente incorreto que quando passou na TV (alguém assistiu o Barra Pesada?!?) teve metade dos diálogos cobertos por um piiiiii e uma cena inteira cortada só porque citava uma certa erva ilegal. Mas cara, nenhum outro filme de Brasília foi citado pelo Juri Oficial, então acaba sendo honrosa essa menção que fizeram ao filme.

B: Quais são os seus projetos futuros? O que é, exatamente, a produtora Lumiô?

GC: A Lumiô é um grupo de amigos muito irresponsáveis para virar uma empresa e muito pilhados para não fazerem nada. Então, vira e mexe um apresenta um projeto e a gente grava. Na verdade, muitos dos nossos vídeos só são vistos por nós mesmos ou por nossos amigos, por isso fizemos o site, vou tentar colocar cada vez um filme lá. Quem sabe algum dia a gente consiga virar uma produtora de verdade, enquanto isso a gente faz por prazer mesmo e sem ganhar um centavo.

B: Mande uma mensagem final para os doze leitores do Buldozer.

GC: Um abraço para quem curtiu os filmes e antecipando que com certeza vão ter uns xaropes que vão descer a lenha, já respondo: se lasquem!