Sobre o que interessa- Parte 1
Esse será o primeiro de uma pequena série de textos aqui no blog onde eu vou deixar o humor negro e a carnificina só um pouco de lado para falar de um assunto que interessa a todo mundo: a forma como a gente encara o sexo, e a reação das pessoas quando isso entra na jogada. Em princípio estou pensando em três textos, esse aqui falando sobre a associação entre o sexo e a felicidade, outro falando sobre receber e dar prazer, e outro que estou pensando em batizar de “Sociedade do Prazer”, mostrando algumas idéias que tenho de como a gente poderia se resolver melhor com esses lances, individualmente e na construção social.
Texto 1 – O PRAZER E A VIDA EM INTENSIDADE
Algo que eu gostaria de entender é porque as sociedades humanas, não só a ocidental, ritualizaram tanto algo tão prazeroso, simples e bonito como o sexo. Ritualizaram, na verdade, talvez seja uma forma pouco exata de me referir ao fato de que as pessoas são ensinadas a colocar uma série de barreiras psicológicas e sociais em sua busca pelo prazer, a ponto de reduzirmos nosso potencial de felicidade através da vida. Considero o prazer sexual algo saudável e libertador, e acho que ao longo da existência da gente, poderíamos aproveitar mais esse potencial para conseguir nossa própria realização como indivíduos.
Em praticamente toda a natureza viva está presente essa busca pelo êxtase, pela intensidade. Curiosamente, nós, seres humanos, que gostamos de nos considerar a mais esperta das criaturas, mas não hesitamos em promover nossa própria infelicidade nos impondo uma padrão quase que burocrático para aceitarmos estar ao lado de alguém que nos atrai. Acho muito pouco saudável a forma como a gente é ensinado a sublimar, a administrar repressivamente os nossos impulsos mais sinceros, no caso das mulheres em especial, que na maioria dos casos são desde a infância expostas a um discurso repressor, associando o prazer sexual com a decadência moral e espiritual
Nada mais falso, naturalmente. Uma vida sexual saudável traz às pessoas alegria, já percebi um inconfundível brilho nos olhos e nos sorrisos das mulheres que se declaram bem resolvidas com sua sexualidade. Não é a toa que, por outro lado, muitas mulheres dizem implacavelmente, quando conhecem alguma moça rabugenta, impaciente ou sem modos, que ela é sem dúvida uma “mal comida”, ou que “isso é falta de...” errr, homem. Repare, isso não sou eu quem está dizendo, isso é algo que eu observei em vários dos ambientes com muitas mulheres em que já vivi: quando maduras, elas costumam associar a infelicidade diretamente com a falta de sexo.
Nada mais verdadeiro. Na verdade, foi um modelo excessivamente patriarcal de sociedade que impôs uma série de padrões distorcidos ao comportamento sexual humano, desequilibrando a relação da aproximação entre os homens e as mulheres, impondo um modelo repressor para as mulheres e impositor para os homens. Esse modelo de relação exacerba a natural impetuosidade masculina, empurrando para o homem toda a responsabilidade da iniciativa, e estimula a mulher a reprimir seus impulsos mais naturais e esperar com uma passividade tensa e doentia a ação do homem. Não bastasse isso interferir na relação de aproximação entre as pessoas, interfere também imensamente na qualidade da relação sexual, prejudicando em especial o prazer da mulher (vou falar mais sobre isso no próximo texto).
O interessante é que nem sempre foi assim. Muitas sociedades antigas tinham uma visão bem mais positiva da relação sexual. A visão de mundo dos povos celtas, que habitavam as ilhas inglesas e boa parte da Europa a oeste de Roma, tinha uma visão muito mais aberta que a nossa sobre o papel do sexo não apenas entre as pessoas, mas em todo o movimento do Universo. Tinha o papel da mulher em alta conta, e sua religião tinha uma visão sexual da energia que mantém o mundo coeso. Um exemplo é o Ritual de Beltane, que esses povos realizavam em todo o início de primavera:
“ Em Beltane o Grande Rito é realizado e possui um significado muito mais especial nesse Sabbat, pois representa o Casamento sagrado, a União Sexual da Deusa e do Deus que sustentará a Terra, dando uma colheita farta e abundante para todos nós nos meses vindouros. O Grande Rito é ralizado simbolicamente, quando o Athame (símbolo fálico) é mergulhado no Cálice (símbolo do ventre da Deusa).
Na Europa Antiga, as pessoas celebravam Beltane unindo-se sexualmente em meio aos bosques. Todas as crianças concebidas por meio dessas uniões eram consideradas “bem-aventuradas” e filhos da Deusa e do Deus. Essas uniões em meio às árvores era um ato de Magia simpática e todos acreditavam que tinha um efeito positivo nos reinos animal, vegetal e humano.”
(Clique aqui se quiser ler o texto completo)
Representação do auge do rito de Beltane, onde o "Gamo Rei" se deita com a "Deusa". Notem que na cultura celta os chifres simbolizam tão somente virilidade, ok?
Isso sim é o que eu chamo de uma visão equilibrada da sexualidade e do universo. O que nossa sociedade conservadora, cheia de preconceitos, chamaria de “pouca vergonha” ou “putaria”, essas pessoas consideravam um ato de amor dedicado a homenagear os Deuses e a felicidade no mundo. Tem gente que considera naturais todos os conceitos babacas e tabus que acumulamos sobre o sexo, mas essas outras culturas lembram a gente que nosso comportamento referente ao amor e ao sexo é uma construção social, e em minha opinião, aquela em que vivemos ainda hoje é nonsense e destrutiva. Mas essa realidade está mudando, muita gente está tentando rever seus valores à luz de reflexões perspicazes e da aceitação da natureza de seus próprios instintos, construindo novos valores para uma vida de muito mais prazer, felicidade e êxtase.
Wiccan Barbara, preparando-se para o Rito de Beltane. Repare na felicidade estampada no rosto da moça, esses são o sorriso e o olhar de quem vive uma vida que vale a pena!
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004
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