O Exterminador do Futuro 3
Quando nosso amigo Demétrius viajou ao Peru para ganhar um troco dos executivos locais em Lima (não me perguntem como, só sei que o cara voltou de via(da)gem com mais grana do que saiu daqui, e com um imenso sorriso no rosto) assistiu uma cópia pirata do filme em DVD, com legendas em espanhol. De volta ao Brasil, sentenciou implacavelmente, antes de eu ver o filme: É - UMA - BOSTA!!! Eu não diria tanto, mas o filme é fraco, embora o mais interessante de tudo é que a trama básica, a história do filme, é MUITO boa, mais ou menos isso:
John Connor, já adulto, desconfiado de que a vitória conquistada em Terminator 2 não havia significado a abolição do fim do mundo, vive à margem do sistema, sem identidade, emprego fixo, casa, conta bancária ou cartão de crédito, enfim, impossível de localizar. Um exterminador ultra-moderno é enviado, mais uma vez, para matar John Connor, e Scharzenegger, o ciborgue t-101, para salva-lo e à sua futura esposa. Enquanto isso, numa instalação militar, os americanos estão terminando de desenvolver a Skynet e os robôs de guerra que no futuro serão o flagelo dos humanos. Um vírus de computador arrasador toma conta da rede mundial e começa a causar o caos, e a única esperança de erradicá-lo é ativar a Skynet, que, como sabem os que assistiram Exterminador do Futuro I e II, é o evento dá a partida do "Dia do Julgamento". A sorte do mundo está lançada, e todos os dados estão para correr em um único dia.
O filme trata de questões interessantes relacionadas à viagem temporal, como o destino e a inevitabilidade de certos acontecimentos. O fim do filme é muito bem bolado, e para quem não sair lendo muitas resenhas, é algo inesperado, um anticlímax merecedor de aplausos, especialmente em se tratando de um filme hollywodiano.
No entanto, vi que, mesmo com a melhor das idéias, um bom diretor faz falta, e, nesse caso, a ausência de James Cameron não poderia ter sido mais sentida. Terminator e Terminator 2, são, antes de tudo, excelentes filmes de ação, quesito no qual o terceiro filme deixa muito a desejar. As perseguições e a pancadaria são extremamente monótonas, e a única briga direta entre os ciborgues mostra ambos se usando para destruir paredes. Deprimente. Além disso, o filme tem algumas trasheiras, advindas principalmente da tentativa frustrada de se acrescentar alguns elementos de humor no filme. Tal iniciativa poderia ser interessante, se não fosse marcada por aquele humor batido e forçado, típico dos filmes comerciais americanos, e em situações descontextualizadas. Um filme com a carga de violência que os anteriores trazem e esse deveria trazer (mas não traz, pois as matanças são feitas em cenas demasiado rápidas, ou borradas, ou tão somente insinuadas) só poderia combinar com um humor negro e cortante. Posso relatar as merdas que me lembro:
- Em uma das primeiras cenas do filme, na mesma hora em que se fala que John Connor liderará toda a humanidade contra as máquinas, mostra-se um sujeito segurando a bandeira americana no meio dos destroços. Argh!!!
- A Exterminadora do Futuro, ciborgue T-X, (a gostosa Kristanna Loken), se materializa EXATAMENTE dentro de uma loja de roupas femininas. Mesmo assim, sai andando pelada na rua (e o boiola do diretor não mostra nem os peitos da mulher, embora mais à frente vá dar todo o destaque ao tórax do Schwarzenegger) até achar uma coroa na rua, roubando suas roupas e seu carro conversível. Que a máquina seja violenta tudo bem, mas porque ela sairia na rua procurando alguém com roupas que lhe servissem, se tinha uma baciada à disposição exatamente onde se materializou?
- A mesma imbecil, ao ser parada por um guarda, utiliza um recurso muito singular para uma exterminadora: aumenta o tamanho de seus seios para parecer mais sexy para o guarda que a está abordando. Isso não seria tão ilógico e descontextualizado, se ela não matasse o guarda segundos depois. Para uma máquina, parece até que foi programada para reproduzir a falta de lógica feminina.
- Ainda na mesma cena, ela mata o guarda para roubar seu revólver. Isso também não seria tão estúpido, se ela não tivesse um monte de armas supermodernas já imbutidas no corpo, todas superiores à automática do guarda, inclusive um lançador de raios na palma da mão.
- Embora eu esteja dizendo que a exterminadora mata fulana ou sicrano, essas mortes são todas subentendidas. Ela diz algo como "I liked your gun!", com um sorriso idiota para o guarda, e depois aparece com a arma roubada. Quando ela mata o noivo de uma das personagens do filme, aparecem apenas umas gotas de catchup batendo num retrato. Quando robôs assassinos fazem um massacre numa base militar, não sai uma gota de sangue das pessoas que levam milhões de balas. Quando aparece uma marcha das máquinas em guerra no futuro, aparecem os robôs atirando, mas nunca se mostra em quem. Eu não sou sádico, mas a contínua e deliberada supressão da violência ao longo do filme é perceptível, e dá a impressão de se estar vendo um desenho da Disney, e é um retrocesso em relação à crueza dos anteriores.
- Há explosões nucleares no filme, mas elas ficam quase subentendidas, mostrando no máximo uma luzinha atrás de um montanha se aproximar de uma cidade. No 2, onde explosões nucleares nem são uma realidade e só existem na cabeça de Sarah Connor, é mostrada todo o horror de uma explosão nuclear arrasando um parque com crianças. Parece que os caras quiseram simplesmente economizar as despesas relativas às cenas da Guerra Atômica, que ficariam com certeza muito bem no filme. Ou acharam feinho mostrar gente morrendo com radiação, ia ficar "muito forte" e as mamães deles não iam gostar.
Aliás, um dos grandes pontos fracos do filme é a correção política. No 2 John Connor é um hacker que rouba dinheiro de caixas eletrônicos (cena suprimida na versão exibida pela Globo, aliás, ao menos na primeira vez)e despreza seus pais adotivos; sua mãe é uma quase psicótica de guerra que trafica e esconde armas entre o México e os E.U.A., e dá para qualquer um que possa ensinar algo de guerra para seu filho. No começo ela vive trancada numa clínica psiquiátrica, e em sua fuga, mata o simpático enfermeiro que abusava dela à noite e pega o seu psiquiatra como refém para poder fugir, enchendo uma seringa de detergente e enfiando no pescoço dele. O que temos no 3, então? Todos os personagens humanos são bonzinhos, e até o general escroto que inventou e desenvolveu a Skynet para o Pentágono (a inteligência artificial que posteriormente vai tomar o mundo) NÃO QUER QUE ELA SEJA USADA, mesmo numa hora que todo o sistema de informática do exército americano estava em colapso, e sem nenhuma explicação razoável!!! Ele só ativa a Skynet após uma ordem do presidente americano (único que exibe alguma malícia no filme todo, mandando ele ativar a Skynet e lhe prometendo verbas).
Para não ficar só detonando, alguns pontos no filme, além da história geral, são bons. Um deles é justamente uma das coisas que o Demétrius não gostou: o John Connor é meio bundão. Eu achei isso massa: eles poderiam ter escolhido algum galã idiota para fazer o papel do cara, e colocado ele todo fodão, mas pegaram um cara baixinho e magrelo (Nick Stahl), além de meio sujo, mal vestido e com a barba malfeita. O sujeito vive meio indeciso e faz umas merdas durante a história, sendo um personagem mais verossímel do que o padrão que Hollywood geralmente impõe aos seus "heróis". O único defeito é que é muito bonzinho, bem diferente do adolescente escroto e malicioso do 2, mas tudo bem. Dá para aceitar a desculpa de que o sujeito amadureceu, se tornou mais sério, etc, como também acontece com a maioria das pessoas, a não ser a gente aqui do Buldozer, lógico, que continua eternamente agindo como moleque e ainda acha isso bonito. Mas deixando isso de lado, só fico puto como os porras do Omelete falaram tão bem desse filme. Pode não ser uma bomba como Hulk, mas os porras babaram o ovo total. Será que esses críticos de merda tão ganhando jabá para falarem bem de filme marromeno? Se estiverem fazendo isso é um suicídio profissional, porque daqui a pouco ninguém presta mais atenção neles (se é que hoje alguém ainda se liga na opinião dos caras).
sábado, 9 de agosto de 2003
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