domingo, 31 de agosto de 2003

Algumas impressões sobre o primeiro encontro de blogueiros do DF

Como bons nerds, nós, do Buldozer, resolvemos baixar em peso no primeiro encontro de blogueiros do DF. Imaginem então Daniel, Demetrius Ogro, Leo Corbusier e Reinaldo, o Bruto, simpaticamente se dirigindo ao Marieta Café, para se encontrar com pessoas que contam suas vidas e expressam o resultado de suas reflexões na Internet. Obviamente, nada de saudável poderia surgir daí, pelo menos é o que eu pensava. Para piorar tudo, a Thaís tinha tentado nos animar no rolo compressor do post anterior, dizendo que a Internet não era feita só de nerds gordos de óculos, gagos e mulheres barangas. Olhei-me então no espelho, e vi um nerd gordo e de óculos. Lembrei do Reinaldo e do Daniel jogando Counter Strike, e do tanto de vezes que fomos todos juntos em rodízios de massas, no Habib’s, no Giraffas, no MacDonald’s... ao contrário do que pensa nossa amiga Thaís, rótulos são rótulos porque são verdadeiros.

Esperava desse encontro um desastre absoluto, e estava indo mais pelo exótico. Já tinha combinado com o Reinaldo de salvar a noite soltando pipocos quando a mesa começasse a descambar para a pseudointelectualidade (padrão aqui de Brasília):

- Leo, quando a pseudice começar, é pipoco pra todo lado, ok?
- Lógico. A uzi já tá engatilhada.

Chegamos juntos, por trás de nossas barrigas, óculos e rostos redondos. O que posso dizer? As pessoas conseguiram me desarmar nos primeiros cinco minutos. Fomos bem recebidos e, por mais que esperássemos, não tivemos que agüentar qualquer papo imbecil sobre o sentido da vida, sobre a maldade da rede Globo ou sobre como relacionar a autofelação com o movimento dos sem-terra. Também não tive que agüentar babaquices de patricinhas ou imbecis tirando onda porque é filho de fulano ou sicrano, nem parecia que eu estava em Brasília. Embora eu já estivesse pronto para eles, NENHUM dos seguintes diálogos foi necessário:

- Oi, vc sabia que sou bruxa?
- É, tem cara mesmo. Já ouviu falar em plástica?
OU:
- Minha casa tem duas piscinas, é um barato!
- Também acho isso super positivo, sua chance de morrer afogada é duas vezes maior!
OU:
- É muito legal ter um Audi, já dirigiu um?
- Dirigir não, mas já quebrei os vidros de um monte com meu pé-de-cabra.
OU:
- Tudo é tão difícil, ninguém me entende!
- Nem eu, porque você não se mata?


Todas essas permaneceram no pente, mas isso logicamente não quer dizer que eu deixei a uzi no carro. Ela estava no colo pronta para a primeira oportunidade, mas na verdade rapidinho me esqueci da minha vontade de atirar. Gostei da maioria das pessoas. Algumas ficaram a maior parte do tempo caladas, só ouvindo, o que é sinal de inteligência. Outras conversavam com fluência e sobre assuntos interessantes. Como é comum aqui em Brasília, que é pequena como um ovo de codorna, rapidamente identificamos os amigos e conhecidos comuns da cidade durante o bate-papo. Fiquei feliz com o nível do pessoal, e ao contrário do que aconteceu comigo nos poucos desses encontros de internet que fui, me senti à vontade entre as pessoas. Essas são minhas impressões sobre algumas delas:

- Thaís (Princesa de Paus): a Grande Timoneira do encontro, a Mao-Tsé-Tung da galera. Valeu, garota, o encontro foi bacana e a gente te deve uma.

- Dani (Quero Vodka): Fantástica. Além de gostar de vodka, também detesta o Space Bar e conta histórias que te matam de rir, sem dúvida tem o espírito Buldozer.

- Mayra (Milk Shake): Esbanja simpatia. Como ela, também não entendo como alguém pode pagar 5 mil numa bolsa ou um milésimo disso numa VOGUE.

- Juliana (Point) : Menina legal, uma das inteligentes. Tem um blog rosa com a Hello Kitty no topo, e tomou um dos poucos pipocos que soltei na mesa justo por conta disso. Mas ela sabe que foi sem querer (querendo), eu não queria provocar ela em específico. Só queria zoar qualquer pessoa com blog da Hello Kitty.

- Marcos Valério: Noivo da Thaís, outro dos inteligentes. Foi o recordista de pipocos da noite, tendo tomado dois balaços: meu e do Reinaldo. Já eu falo disso.

- Metralhadora Descontrolada : Nunca vi alguém com tanto fôlego. No caso dela é legal, gosto de pessoas que falam bastante, desde que falem coisa com coisa e sobre assuntos interessantes. É o caso da menina.

- João Damasceno (Eu Ninguém): Outro dos inteligentes. Falou pouco mas acrescentou. Legal, cara.


As outras pessoas que não citei ou linkei, saibam que minha memória é tão boa que o Reinaldo costuma me chamar de Lenny (homenagem ao Leonard, protagonista do filme Amnésia). Não se chateiem comigo.

Bem, o encontro estava um maravilha, até chegarem os caras do Perturbados. Como eles chegaram BASTANTE atrasados, resolvemos aproveitar e fazer uma segunda roda de apresentações. Quando me apresentei, o prego recém-chegado me perguntou:

- Buldozer? O que é isso?

Pergunta comum, até aí tudo bem. Ninguém tem a obrigação de saber. Respondi:

- Buldozer é um daqueles tratorzões que a gente usa para fazer terraplanagem.
- Ah, então vocês são "peão de obra"!

Nenhum pipoco bom o suficiente para martelar o prego passou pela minha cabeça. Achei melhor só responder seco:

- É isso aí.

Porque "é isso aí" foi só o que eu pude pensar para não estender muito o diálogo com um mané desse calibre. Se eu fosse mais rápido, podia ter respondido:

- Pião gira mas prego afunda, babaca.

Ou :

- Sou peão de obra sim. Já nadou no cimento?

Ou ainda:

- Chupe-me, imbecil.

Não que eu considere "peão de obra" uma ofensa, mas ficou bem claro que a intenção dele era essa. Para sentir a diferença do tom, quando no começo da noite as meninas fizeram a mesma pergunta sobre o nome do blog e eu dei a mesma resposta, elas perguntaram: "vocês são engenheiros, ou coisa do tipo?" Essa é a diferença entre seres humanos e montes de merda. Subseqüentemente, os quatro começaram a pedir uma porrada de coisas, e um deles (o prego) começou a falar alto e monopolizar a conversa. Foram embora tão rápido quanto chegaram, o que foi bom. Algumas pessoas já tinham ido embora antes, e a partir daí todo mundo começou a sair, momento em que aconteceu o Grand Finale: APÓS JUNTAR TODA A GRANA, FALTAVAM 25 REAIS PARA COMPLETAR O VALOR DA CONTA.

Na primeira conferência, descobrimos que estava relacionado na conta um sanduba de dez contos que ninguém havia pedido (todos estávamos de olho no que os outros pediam). Fora isso, parecia tudo certo. Refeita a conta, havia ainda um déficit de 15 reais. Neste momento, estávamos eu, Reinaldo, Thaís, Marcos Valério, Dani e João. Thaís perguntou:

- E aí, e agora?

Respondi a única coisa que poderia ser respondida:

- Vamos socializar o prejú.

Após o rateio do que não comemos ou bebemos, começamos a pensar em quem poderia ter sacaneado. Durante a noite, cada um observou um pouco o movimento da mesa, e as pessoas que haviam consumido bastante e saíram mais cedo, em geral as víamos calculando com papel e caneta aquilo que tinham consumido (como eu fiz, apesar de não ter saído cedo). Adivinha quem eram os únicos que não vimos fazendo um cálculo cuidadoso de seus gastos e foram embora mais cedo? Isso mesmo! A galera dos Perturbados...claro que isso não quer dizer muita coisa...eles deixaram trinta contos na mesa, podem simplesmente ter feito uma conta errada, mas ter agido na maior boa intenção. Ou podem nem ter sido eles, como as coisas no Marieta Café são meio caras e a maior galera foi embora mais cedo, basta umas três ou quatro pessoas esquecerem de incluir os dez por cento do serviço no seu cálculo para chegar a quinze contos. Ou ainda os caras podem ter feito o cálculo certo, deixado a grana certa e a gente estar sendo absolutamente injusto.

Mas lógico que nosso espírito Buldozer não levava em consideração fatos tão simples e óbvios. Para mim e para o Reinaldo estava bem claro que tinha sido os caras. Por que achávamos isso? O Reinaldo resumiu tudo:

- Pregos! Por que todo cara metido a simpático gosta de botar no cu dos outros?

Esse era nosso filosófico argumento para culpar os sujeitos. O Marcos Valério chamou a atenção para isso:

- Pô, vocês mesmo disseram que não tem certeza de que tenham sido os caras. Ainda agora estava todo mundo conversando numa boa, agora detonar os caras pelas costas, nada a ver essa atitude...

Cara legal, argumento razoável. Mas quem nos conhece sabe que é o mesmo que pedir pipoco. Minha uzi cuspiu primeiro:

- Não se preocupe, vou detonar pela frente também. E não sou advogado nem juiz, não preciso provar porra nenhuma. Eles foram os únicos dos que consumiram bastante que eu não vi fazendo cálculo no papel, isso para mim é o suficiente.

Ou seja, "eu não fui com a cara dos sujeitos, isso para mim é suficiente". Sou uma pessoa bacana e razoável, como podem ver. O Reinaldo também passou o rolo compressor:

- Neguinho consumiu, não pagou e agora a gente está tendo que arcar com o prejuízo. Dá licença de eu ficar puto?

Nem a Thaís perdoou:

- Não se preocupem...esqueceram que a gente tem a foto deles?

Acho que ela também gostou dos caras.

Não me entendam mal, como disse no começo, me amarrei no encontro. Pretendo ir nos próximos, inclusive, e encontrar as pessoas, gostei da galera. Peço, contudo, que bebamos em algum lugar cujo serviço seja feito em comanda individual.