Bem, aí vai mais uma contribuição de um dos japas mais perturbados que conheço...Rafael:
Texto 1 – resposta ao texto do Leonardo
Esse “A gente muda e evolui” que o Léo colocou no fim do seu texto “Porque resolvi virar playboy – Observações Antropológicas” (esse ficou uma merda, mas tá valendo) pode ter algumas interpretações. Mas tem coisas que são o que são e ponto. Mudar todo mundo muda. Alguns vão de gordocult pra gordo. Mas dizer que evolui ....De verme pra ameba não é evoluir. As vezes é melhor ser um verme.
R: E na bunada, não vai dinha, Rafael? Vaisefuderfeladaputa....
E agora ele tenta dar uma de engajado...quem não conhece, até acredita...:
Texto 2 Estrutural-DF: a indiferença mora ao lado – visita a Estrutural
Sexta-feira 06 de dezembro de 2002. Fomos seis alunos, de uma turma de aproximadamente 25, mais o professor. Passamos uma tarde no assentamento da Estrutural. Lá chegando registramos nossa visita na gerência e, auxiliados pela agente comunitária, andamos pelas ruas de chão batido, às vezes com esgoto a céu aberto formando poças. Pudemos conversar com alguns moradores, indagar sobre seus anseios e necessidades e também visitamos suas casas.
Confesso que nunca tinha estado em favela ou qualquer lugar parecido. Para mim, um morador do plano piloto de Brasília, o contato com outra realidade (a miserável) foi chocante. Sem dúvida, como o próprio professor afirmou, “essa visita vale por 10 aulas”. Foi um aprendizado especial para vida.
O mais surpreendente é a força e a coragem dos moradores. Sobrevivem sem as mínimas condições num ambiente hostil (pelo menos para as classes média e alta). É gente boa que habita aquelas casas sem água encanada, sem esgoto, com gambiarra elétrica, insalubres. Há muitas crianças, muitas meninas esperando filhos, ou já com filhos. Os pequenos sofrem com doenças transmitidas por cachorros, numerosos por sinal e livres, porém magros, doentes e famintos. Já dizer que são pessoas trabalhadoras torna-se mais complicado, já que nem todas trabalham, muitas sobrevivem recebendo cestas-básicas azuis; triste e desesperador. Parece sem solução.
Surge a questão da aula (segunda-feira 9 de dezembro à noite): remover ou manter o pessoal na Estrutural? Existem moradores com mais tempo de Estrutural do que todos meus anos vividos – que direito eu teria de achar, mesmo que hipoteticamente, que a solução seria remover os moradores, ou parte deles? Respondo: nenhum. Simplesmente são pessoas que desejam, sonham seu pedaço (doado) de terra.
Ao indagar a um morador o que ele sentia mais falta na Estrutural, algumas resposta que seriam esperadas como água encanada e saneamento em geral não foram lembradas. O que faz falta é a escola perto pra deixar as crianças, é o hospital, ou seja, os equipamentos urbanos que qualquer cidadão quer. Na verdade não parece importar a falta de água encanada em casa (nunca tiveram antes), só o fato de estarem num lote que futuramente e, se o Santo Roriz quiser, será deles. Os moradores, enfim, serão donos. O que Proudhon diria, hein? E olha que os habitantes nem são proletários. O que esses pobres moradores são? São seres humanos. São um nada ignorados pela sociedade pseudo-intelectualizada e endinheirada. São os ELEITORES lembrados nas promessas de campanhas e esquecidos nas realizações políticas. São os cidadãos sem cidadania.
O que eles querem? Vão até a Estrutural e perguntem a eles. Não mordem, garanto.
Não há mais condições de chegar em casa deitar na cama e dizer “graças a Deus!”, ou mesmo se expressar: “não sou rico, mas tem muita gente pior ...” e tem mesmo, não nos conformemos, insuficientemente não.
“Graças a Deus!” Só isso não basta.
Brasília, 9 de dezembro de 2002.
Ps 2 – espero que esse texto não tenha ficado com cara de “coitados dos pobres”. Se essa foi a impressão passada, deve-se ao fato de que fiquei bastante impressionado com essa visita. De coitado pobre não tem nada, ou quase nada.
terça-feira, 10 de dezembro de 2002
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