terça-feira, 5 de novembro de 2002

Galera, enquanto eu tiver aprendendo a mexer nessa baiúca, trasheiras como o link para figura que não funciona aí embaixo vão continuar acontecendo. Não reclamem. Para compensar, vou publicar aqui uma "homenagem" póstuma a uma boate aqui de Brasília, que fechou há pouco tempo (grande novidade, boate fechando por aqui) graças à intrépida ação de síndicos de edifícios próximos, que conseguiram montar um lobby e aprovar uma lei na Câmara Distrital para proibir boates em zonas residenciais. Embora ache essa lei uma conquista típica de velho desocupado (mais uma deixa para o guto me chamar de preconceituoso), aquela boate mereceu o que teve. Esse texto foi publicado originalmente na GordoscultHP, que nunca teve boa saúde e morreu de enfarto e pressão alta recentemente...sedentarismo dá nisso. Com vocês...

Don Taco – 309 Norte
Homenagem Póstuma

Este gordo que vos fala foi obrigado a perder alguns quilos uns tempinhos atrás. Tudo começou, na verdade, quando, às nove horas da noite, fui informado que a nova formação de uma banda de um amigo meu muito antigo se apresentaria no Don Taco. Como bom gordo, não estava muito animado para sair de casa, e nem sabia direito o que era essa história de Don Taco. Seria alguma boate gay? Um clube de mulheres? Mas rapidamente raciocinei que esses não seriam lugares adequados para a apresentação, e lembrei-me que existe uma comida típica mexicana com esse nome, também lembrando a insuportabilíssima onda de bares e boates chicanos e mexicanos que vem assolando a cidade de uns anos para cá. Não que a comida seja ruim, mas acho o Doritos muito caro nesses lugares. Na verdade, um amigo nosso (e isso é sério) achou um tazzo naquele da 215 sul, mas voltemos ao assunto. Estava a conversar:

- Onde fica isso aí?
- 309 Sul
- Putz.

Aquele inferno à noite. Pelo menos não era tão longe. Pus minha irmãzinha no banco do passageiro e me taquei para o Taco (OPA! Calma aí, nada disso...). Fui para o Don Taco, enfim. Era quinta-feira, e achei que por conta disso teria ao menos paz e alguma economia. Fui falar com o segurança na entrada:

- Qual é o esquema aí? Consumação?
- Não (gritando, pois embora a apresentação não houvesse começado, o pop-play comia solto e atravessava a porta como uma
ária na ópera do Xuxa Park, ou seja, do Inferno). A entrada é oito reais (como disse, faz um tempinho).

Todo mundo já viu um gordo resmungando. O segurança também, mas o coitado só estava ganhando a vida, e foi até educado. Peguei a fichinha e entrei, já imaginando-me em minha mesa comendo algumas tortillas. O primeiro choque foi a cor. “Que p(!) de lugar colorido do c(!)”, pensei. Até dói a vista. Mas tudo bem, até porque a partir do momento que a peruagem tomou conta dos escritórios de arquitetura da cidade essa moda não parou de se proliferar, assim, ainda que ridículo, não é motivo de crítica ao local especificamente, que até que não é feio, por sinal. Organiza-se como a típica boate play: pista, palco e bar com umas poucas mesas no térreo, e muitas mesas num mezzanino votado para a pista. Naturalmente já previa isso, e cheguei já procurando onde estaria a escada. Foi quando me toquei de que a droga do lugar estava entupido de gente. Mesmo. Pior que show de graça em lugar fechado. Pior que vernissage pseudo com boca livre, vinho barato e cidra espumando. Já viram como gordo se locomove em lugar fechado? Suando? Pois eu mal conseguia respirar, sendo que não eram sequer 23:00h. Chegando ao mezzanino (com muito esforço e calorias gastas) perguntei o porquê daquilo ao pai do meu amigo, que encontrei lá em cima. Ele me disse que toda quinta-feira era assim lá e ainda costumavam ficar umas 200 pessoas de fora. Era o dia do Taco Show (hummmmm...papo esquisito. Voltei a desconfiar do lugar).

Era demais para mim. Fiquei um pouco na mesa para fazer a social e então desci para beber alguma coisa(sem chance de ficar esperando garçom, os de lá até que fazem o possível, mas é gente demais não só para atender, mas no caminho deles). Outra jornada insólita para chegar ao balcão, onde pedi licença para um tio que ainda ia dar o que falar naquela noite. O tio me eslareceu que não poderia sentar-me nos lugares vagos ao balcão pois dois amigos seus o ocupariam. Expliquei gentilmente que apenas ocuparia o espaço pelo tempo necessário para fazer meu pedido. O atendimento foi incrivelmente rápido (sério) e pedi um drinque de tequila com um nome maior que meu braço. Muito bom, por sinal, e meio caro também, como tudo no cardápio de lá. Como eu tinha extorquido mamãe gordinha para ir no show no lugar dela – que para não negar a raça, estava “muito cansada” (de férias) para ir – estava tudo bem.

Começou o show, fui para a pista. Patis e plays se expremiam de forma chata e desgradável na pista, muito além do que costuma ser uma casquinha saudável. Era bem chato, não dava para parar em um canto, sempre vinha uma multidão querendo passar por ali. Incrível como a playboyzada paga caro pelo desconforto. O show estava até bem legal. Quando lembrei que era um ser humano e não uma sardinha, resolvi ir para outro canto. Encontrei minha irmã perto de onde estava o tio e seus “amiguinhos”, e ela estava revoltada porque a velharada não saía do pé dela. Fiquei na minha. Quando pintou um outro tio chegando junto demais, tive que tomar uma atitude, e o velho saiu de fininho. A droga do lugar lotou mais e mais e eu já estava chateado. O tio dos “amiguinhos” começou a puxar papo com minha irmã, e fiquei na minha, vendo o show. A boate ficou quente como o México em verão. Minha irmã pediu para que eu fosse ao balcão pegar uma cerva para ela (não é otária e não quis ficar de costas para o tio), e eu fui, após pedir licença ao tio e nem encostar nele. O sujeito ficou puto não sei com o quê, e foi encher o saco da minha irmão falando mal de mim (bem alto). Cheguei ao ouvido dele e disse fraternal, bondosa e delicadamente que não tinha culpa se ele era surdo, pois tinha pedido licença para passar. Fiquei feliz e sem querer derrubei o uísque de um cara que não tinha nada a ver com a história. Doze paus de prejuízo, pelo menos não derramou em ninguém. O tio saiu puto (junto com seus “amiguinhos”). Não tive dúvida. Assim que acabou o show, cumprimentei meus amigos da banda e pedi para um segurança me acompanhar e à minha irmã até o carro. Para completar, me cobraram um pau e cinquenta a mais na conta e não tive saco para reclamar.

Se você é pati ou play, vá. Mas se você é gordocult, saiba que, bem na pilastra central da boate, colocada como decoração, há uma FORCA (sério). Se a coisa apertar demais lá embaixo, é só se pendurar e assistir o fim do mundo de camarote.


Léo